"obrar" em banheiro público

Refiro-me àquele banheiro onde muitos liberam seus excrementos, simultaneamente, no mesmo espaço, compartilhado por pessoas do mesmo sexo, conhecidas ou não, e com divisórias inseguras.

O banheiro que, apesar de ser público, é de uso individual (entra um de cada vez), não tenho problemas, parece que estou em casa. Faço de tudo lá... (não me venha com sua mente pervertida, hum?).

Nunca fui de fazer nem xixi com a porta aberta; fui criado assim. Nem de ficar nu na frente dos irmãos. Cada um tinha seu espaço, seu pudor.

Pois bem, no meu trabalho infelizmente o banheiro é nos moldes do primeiro exemplo. E o que acontece quando o intestino ataca? Não sou daqueles que “segura as pontas” por muito tempo... Às vezes tenho que ir mesmo, para evitar o mal maior. É uma aventura:

Primeiramente, passo bons minutos criando coragem... Quando vejo que a coisa tá feia mesmo, saio apressadamente. Investigo inicialmente qual dos vários banheiros do prédio está com menor movimento. Entro. Quando vejo que tem alguém, lavo as mãos pra tapear e saio. Se não tem, calma. Respiro fundo, observo disfarçadamente os arredores e procuro me convencer de que ninguém entrará ali durante os próximos cinco minutos. Nunca me convenço, mas é o jeito.

Tem vez que eu nem faço "as coisas" direito, só na expectativa de um infeliz entrar. Mas o pior não é isso. O pior é quando sou traído pelo excesso de confiança. Estou feliz, seguro, e de repente um indivíduo da casa do "b-a-r-a-l-h-o" aparece para dividir o momento comigo. O ínfimo ruído dos seus passos é suficiente para me desestabilizar por completo. Neste momento procuro o silêncio profundo, mas percebo que só consigo controlar a boca de cima... Enquanto o “barro comprido” segue o seu destino glorioso, exalando com propriedade sua fragrância e sonorização inconfundíveis, faço movimentos negativos com a cabeça, lamentando que a dignidade da pessoa humana prevista no inciso III do artigo 1º da Constituição Federal está sendo profundamente violada naquele momento. E sem direito a recurso...

Certa vez, estava eu (naturalmente desconfiado) fazendo o "número 2" no banheiro da escola - em horário de aula, é claro. Quando simplesmente o inspetor vem, coloca a cabeça por cima da porta e me vê, ali, sentado no trono ("até tu, Brutos?"):

   - Desculpa, pensei que era um aluno gaseando aula...

...(Desculpa? Por que? Só porque você subiu aonde não foi chamado pra me conferir "cagando" sobre esta cerâmica oval decorada com pitadas de urina alheia?
Não precisa se desculpar... A final de contas, a coisa mais normal do mundo é bisbilhotar terceiros "cagando" em banheiro público com a porta fechada, não é mesmo?
Mas vem cá autoridade, sem querer ser indelicado, não haveria uma abordagem mais moderna do que essa?)...

   - Tudo bem, respondi timidamente.

5 comentários:

  1. Kkkkkkkkkkkkkkkk... vc não existe!!! O texto é tão envolvente que, durante a leitura, até fiz caretas só de imaginar os detalhes kkkkkkkkkkkkk...

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  2. Eita Léo,
    Demorei tanto que espero produzir algo diferente do número 2.Tenho a absoluta certeza de que você é especialista no uso de banheiro público, pois nunca vi ninguém descrever aquela agonia com letras e cores tão adequadas. Faço apenas um adendo. Você esqueceu o som. Meu amigo, quando não é o barulho do mergulho do tijolo que nos deixa em maus lençóis, é a sinfonia, pouco melódica, desconfortante e acompanhada de um perfume que todos recusam de imediato. Pior que isso só a saída do cubículo, sabe aquela cara de cachorro que roubou um pedaço de carne - todo desconfiado, olhar baixo e uma vontade enorme de fugir do local. É triste. Lourdinha

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  3. kkkkkkkk.....tô rindo até agora.

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    1. Valeu Vavá! É bom ver você comentando aqui... Faz isso outras vezes, vai ser legal...

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