Carta aos "maiarianos"


É freqüente um grupo social mais privilegiado sentir-se superior, enquanto pessoa, e subjugar outros preteridos. Pode não ser regra, mas encontramos cidadãos da capital achando-se mais que os do interior; pessoas do sul e sudeste, em relação às do norte e nordeste; ricos em relação a pobres... Tem gente que acha que a miséria africana deve-se a inferioridade de seu povo, que por isso não consegue desenvolver-se como os brancos, civilizados... Desculpem-me, não é porque sou paraibano, mas isto é ignorância.

Sou convicto de que as pessoas, de uma maneira geral, são dotadas de potencialidades semelhantes. Precisam apenas desenvolvê-las; precisam mesmo é de oportunidades. O problema não é o pobre, é a pobreza; não é o analfabeto, é o analfabetismo; não é o ignorante, é a ignorância...

Há alguns anos, hospedei-me em casa de pernambucanos e lá fui vítima de comentários ofensivos à Paraíba. Como não reagi nem demonstrei irritação, penso que eles cansaram, pois, ao final da minha estadia, reconheceram as maravilhas da minha capital, que, a pesar de ser muito menos desenvolvida culturalmente e economicamente do que o Recife, possui as virtudes de uma cidade litorânea de médio porte. Confessaram inclusive o interesse em morar em João Pessoa. Fiquei confuso...

Lembrei-me dos pessoenses que denigrem outros paraibanos, por estes não serem da capital, por suas cidades serem menos desenvolvidas, por não existir praia aonde moram, por serem negros ou pobres ou analfabetos... Lembrei que, ao mesmo tempo em que somos humilhados por uns, humilhamos outros...

O que seria de nós se os norte-americanos decidissem acabar com os latino-americanos, porque discordam de suas escolhas? Já vi pessoas (até professor) considerarem que, atirar bombas nas favelas do Rio (ou os matarem em massa de qualquer outra forma) seria solução no combate à violência e criminalidade deste centro... Eles não eram da favela..., se fossem, certamente encontrariam outras soluções menos primitivas, mais humanas...

Pesquisando e fazendo as contas de adição e subtração, vi que:

   - desconsiderando os votos do nordeste, Dilma seria eleita com uma diferença de 1.319.934 (um milhão, trezentos e dezenove mil, novecentos e trinta e quatro) votos;

   - excluindo a votação do norte, ela também seria eleita com 11.008.131 (onze milhões, oito mil, cento e trinta e um) votos a mais;

   - não contabilizando norte e nordeste, simultaneamente, ainda assim nada mudaria;

   - Dilma venceu até no sudeste, com vantagem de 1.630.604 (um milhão, seiscentos e trinta mil, seiscentos e quatro) votos.

Pergunto aos maiarianos: querem afogar também os mineiros e cariocas?

Cidadania e democracia é o que falta.

Quem quer dinheiro?!

  – Eu, Sílvio!

Muitos dizem que o ramo do direito é ótimo para ganhar dinheiro. E é verdade. Os altos salários dos Tribunais não me deixam mentir: superam os quatro mil reais para cargos de nível médio. Nada mal, não é mesmo?

Procurei o direito principalmente por isso. Pela estabilidade do cargo público e pelo dinheiro. Não diferente da maioria. Afinal de contas, queremos construir uma família e proporcionar-lhe boas condições de vida. E isto não é nada barato.

No entanto toda atividade tem sua relevante função social. Mais do que a estrita aplicação da lei, o direito existe para que justiça seja feita. Antes de ser um meio de vida, é um meio para alcançarmos a justiça, que é o seu fim. Quando o direito faz justiça, cumpre o seu papel; quando não o faz, fracassa.

A administração da justiça é difícil: Poder Judiciário, Ministério Público, OAB... Todos envolvidos em um complexo sistema que visa a defesa do direito e o combate à ilegalidade. O que dizer de um juiz que vende a sua sentença? Ou de um promotor que negocia sua acusação? Ou de um advogado que dá dinheiro a um funcionário a fim de privilegiar uma das partes? Eles atiram pedras contra uma importante estrutura social de administração da justiça, que não pode ruir e deve funcionar bem.

Me lembrei que estes profissionais passaram cinco anos em uma universidade estudando direito. Não questiono seus notáveis conhecimentos jurídicos, mas preciso dizer: de justiça aprenderam pouco; de ética aprenderam muito pouco; de cidadania não aprenderam nada... E isso também se ensina.

A responsabilidade por nossos atos é de nós mesmos. Entretanto uma formação em nível superior que não visa o aprimoramento da cidadania é falha e muito falha. No curso de direito muito se fala de lei, pouco se fala de justiça...

O direito é meio de vida, sim, mas não pode deixar de ser meio de justiça.

Dinheiro eu quero, mas “topa tudo por dinheiro”, vamos com calma, amigo.

"Em terra de sapo, de cóca* com ele"

O professor nos perguntou quem pretendia seguir carreira política. Ninguém se manifestou. Na semana seguinte, ele relembra o fato e diz que os estudantes universitários, elite intelectual da sociedade, especialmente de direito, deveriam se interessar mais pela política, para o bem da própria política, para o bem da sociedade.

Finalmente um aluno falou:

- Professor, o problema é que quem quiser pautar a sua vida pela honestidade não pode entrar na política, porque as coisas são tão corrompidas que você acaba se corrompendo também...

O professor calou-se.

O sistema político é corrompido. Isto é fato. E penso que seja um fato incontestável. Há politicagem na escolha dos candidatos, na campanha eleitoral e no exercício do mandato. Penso que, sendo o sistema corrompido, quem nele está também o seja... O que muda é a gradação: uns são mais, outros menos.

O poeta Jessier Quirino conta que um político, numa campanha eleitoral, inventou de ser sincero, dizendo que iria “trabalhar de terça a quinta e roubar só o normal”...

Penso que a trajetória do político é normalmente feita de “contravenções eleitorais”, que fazem parte do jogo. Quero dizer em termos práticos que se você não barganhar um voto aqui, vem outro ali que o faz, “conquista” o eleitor e se elege. E você, se quiser ser mais correto, será um eterno honesto candidato e nunca um eleito (salvo pontuais exceções que o leitor encontre). É a mais perfeita aplicação do ditado: “em terra de sapo, de cóca* com ele”. Ou você entra na onda ou disputa em considerável desvantagem. É curioso, é triste, mas me parece a pura realidade...

Presencio no interior, onde a miséria e a ignorância são muito maiores, que a regra da disputa é a prática das corriqueiras “contravenções eleitorais”, com a finalidade de “ganhar” (para não dizer comprar) o voto do eleitor. Principalmente nesta região, as pessoas são extremamente dependentes dos governantes e dos políticos, que de fato, em muitos casos, são os que garantem o sustento da família. Para estes marginalizados, está em jogo a sobrevivência e por isso não os condeno. Diante da miséria, que ameaça a própria existência, a lei e a ética tornam-se secundárias... Sem falar da ignorância, que os fazem confiar em qualquer promessa mentirosa e manifestamente eleitoreira.

Não defendo estas práticas; critico o sistema corrompido. Reconheço, contudo, que estamos avançando no campo da moralidade e transparência públicas, na construção da democracia e da cidadania, portanto há esperança! Por outro lado, sem querer ser repetitivo, uma concreta reforma política, sobre a qual tanto se fala, é indispensável e inadiável.

A salvação mesmo é a educação. Ela, além de aprimorar a cidadania, estimulando uma visão crítica da realidade, conduz à melhoria das condições socioeconômicas do indivíduo e sua família, trazendo mais autonomia em relação ao Estado, os governantes e os candidatos, permitindo por sua vez um voto mais consciente e independente.

Não sou idealista; sou realista. Estaria satisfeito se, pelo menos, no que se refere à campanha eleitoral e exercício do mandato, o que o hoje é regra, fosse exceção, e vice-versa. Da maneira que está, não há fiscalização ou Tribunal que dê jeito...

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 * de cóca = de cócoras, acocorado (no vocabulário matuto, nordestino).

Formação nada cidadã...

Tenho percebido que nossa educação, da família à universidade, passando pela escola, é a de saber como as coisas são ou devem ser, sem questionamentos ou discussões, e isso mata as potencialidades de qualquer um. Tudo é tão relativo, para ser pronto e acabado... A vida é tão reticências, para ser ponto final... A ciência muda tanto, para ser uma verdade absoluta... Valoriza-se quem detém o maior volume de conhecimento – seja ele qual for – e não quem adquire uma capacidade crítica sobre eles.

Na escola, estudamos detalhadamente as briófitas: plantas que medem dois centímetros e vivem sei lá aonde. Estudamos seu tecido celular, sua respiração e trocas gasosas, sua vascularização e reprodução, como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. Mas pouco se fala do desmatamento da Amazônia, de desenvolvimento sustentável, de biodiversidade ou desperdício de água potável. Eu era fera em trigonometria, mas até hoje não sei pra quê... Meu problema é com o orçamento familiar, que só usa as quatro operações...

Na universidade, no curso de direito, ninguém quer discutir nada. Só quer receber aquele conhecimento “pronto” e absorvê-lo; fazer uma prova e receber o diploma; passar num concurso e receber o salário. Por isso que ir pra aula é um saco (ah!, se não fosse a reprovação por falta...). Ninguém quer saber mais de professor: em casa mesmo leem o livro e adquirem o conhecimento. Mas com livro não há diálogo: há sim uma pregação doutrinária, quase sagrada, diante da qual ou você escuta calado ou fecha o livro. Agora, discutir, dialogar, construir um conhecimento a partir da experiência de todos: só na sala de aula. Mas o professor não se presta a isso (ainda querem ser os “mestres” de outrora, transmissores de um saber superior), muito menos os alunos, com outras preocupações.

Pergunto novamente: que formação é essa? Os códigos de Processo Civil e Penal estão prestes a serem substituídos, porque certamente não estão servindo. A sociedade critica-os e muito, mas na universidade, no nosso casulo, estudamos estes códigos como se fossem eternos e os melhores. Não discutimos o que há de ruim neles, as possíveis mudanças que virão, ou as reivindicações da sociedade, que pressiona, clama por justiça e espera mudanças, muitas mudanças. Apenas aguardamos o novo código entrar em vigor, os livros serem publicados, para a gente ler e ficar sabendo como é agora. Legal, não é? A gente não quer participar.

A gente não quer participar porque nunca fomos acostumados a isso. Porque, desde o ventre, recebemos uma formação, não de cidadãos, mas de súditos. Súditos de meia dúzia pensante, que, mesmo de boa fé, por ser apenas meia dúzia, podem errar muito mais.

Meus amigos linguistas...

Logo que entrei na universidade para o curso de fisioterapia, nos matriculamos na disciplina de Português. Eu sempre fui meio traumatizado com Português, com gramática, por isso estava um pouco apreensivo com o que viria...

Já no início da disciplina, a professora fez uma atividade em sala de aula, na qual deveríamos elaborar um resumo de um texto que ela nos apresentou. Fiquei meio nervoso, mas fiz e entreguei.

Na aula seguinte, a professora disse que gostou dos nossos textos, mas um havia lhe chamado a atenção... “Quem é Leonardo?”, disse ela. Gelei e levantei a mão. Ela elogiou minha capacidade de síntese, mas se disse impressionada, porque eu cometia ERROS PRIMÁRIOS DE ORTOGRAFIA!, e ficou remoendo essa história. Sorri para ser legal e, resumindo, tranquei a disciplina.

Uns dois anos depois, já tendo desistido do curso, me matriculei numa cadeira qualquer de português (do curso de turismo, inclusive), para me preparar para o vestibular de Direito. Era uma forma de estudar português gratuitamente, já que a minha situação era preocupante, como vocês viram.

Para minha surpresa a professora era uma lingüista - eu nem sabia o que era isso. Mas ouvi coisas belíssimas, libertadoras...

Que a comunicação é o mais importante e que a fala ou a escrita se presta a essa função, portanto, se a comunicação acontece corretamente, não é uma gíria, um erro ortográfico ou uma expressão coloquial, sem o rigor do idioma, que vai prevalecer. Resumindo: o importante é o conteúdo e não a forma.

Que as variações da nossa língua (o falar nordestino, por exemplo, ou a gíria dos grupos adolescentes) não devem ser causa de discriminação. Um “s” por um “z”, um “ch” por um “x” ou um “ç” por “ss” é algo muito pequeno frente àquilo que se quer transmitir, o que se quer comunicar.

Deste dia em diante virei um “sem vergonha” para escrever. Não tinha mais preconceito comigo mesmo.

Se a comunicação entre as pessoas acontece, e acontece corretamente, isso já é belíssimo, a troca de conhecimento, de informação, de experiência, o aprendizado mútuo... Isso é o que importa.

Discriminar uma pessoa por seus erros ortográficos, sem se dar conta do conteúdo que ela quer oferecer ao mundo é reprovável, é lamentável, é combatível.

Meus amigos lingüistas um dia me libertaram...

Quilombo das Contendas

Há alguns anos eu soube que o Sítio Contendas, no qual a minha avó nasceu, localizado no município de São Bento, alto sertão da Paraíba, foi reconhecido pelo governo federal como uma área remanescente de quilombo.

Isso me encantou bastante, pela admiração que eu já tinha com a etnia e cultura negra; pela convicção histórica de que os negros foram aqueles que construíram o nosso país...; e saber que a minha avó havia nascido numa área quilombola, lugar de luta e resistência contra a injusta opressão branca, me enchia de orgulho.

Comecei a divulgar a história pra qualquer pessoa: familiares, amigos, colegas e até desconhecidos. Às vezes a reação era de admiração, às vezes de repulsa, desprezo... Para mim, constatar a minha ascendência negra me engrandecia muito mais do que saber das minhas origens brancas.

Dias depois, ainda sob a euforia da notícia, foi divulgada a Meia Maratona de João Pessoa e eu tive uma idéia meio maluca. Confirmei minha participação e, na véspera do evento, escrevi bem grande, atrás da minha camisa: “Quilombo das Contendas – São Bento – Paraíba”, como uma forma de homenagem. Pensei ainda em providenciar um chapéu de cangaceiro, para chamar mais atenção, mas os mais próximos não deixaram.

Bem, fazia uns anos que eu só corria de vez em quando para pegar ônibus e por isso eu sabia que preparo físico não existia. Então só me restou o preparo psicológico para encarar o desafio...

Não dei muito orgulho às Contendas, porque fui um dos últimos a terminar a prova; eu e um senhor de 78 anos, que vinha logo atrás de mim, seguido do carro da ambulância... Mesmo assim foi uma festa: meu pai tirou fotos, avistei a maratonista Pretinha, orgulho de nossa terra, e ao final comi um doce, brinde de todos os participantes.

Passei uma semana todo dolorido e com calo nos pés..., mas foi uma experiência interessante, que nunca mais quis repetir...

Um espírito diferente...

Era mais uma aula inaugural de mais uma disciplina do curso, na universidade. Eu, surpreso, começo a perceber algo estranho na sala... Um espírito diferente pairava sobre nós... Um novo discurso de um novo professor me atraía, me provocava, me incomodava, me encantava; mas eu não sabia o que era aquilo...

Ao final de uma aula, sempre a expectativa da próxima...

Percebi que esse espírito queria “baixar”, precisava “baixar” e se encarnar em alguém. Passou-se quase um período inteiro para eu perceber que espírito era esse. Em fim, baixou!

Era o espírito do direito, chamado justiça.

Fazia três anos que eu ouvia falar em direito todos os dias na universidade, mas sobre justiça era a primeira vez... Era estranho.

Me lembrei que o fim do direito é a justiça; que direito é só meio, e que a justiça é que é o fim. Então porque durante esse tempo todo só se ouviu falar em direito? Porque não se fala em justiça? Aliás, só se fala em justiça para dizer: “direito é uma coisa e justiça é outra”.

Ora, direito é uma coisa e justiça é outra, mas não estão tão dissociados assim – pelo menos em tese. Se queremos um direito mais justo, porque distanciar tanto os conceitos? Que formação é essa?

Pelos corredores da faculdade, se fala todos os dias em direito, mas em justiça não se ouve. E quem quiser falar em justiça certamente afastará os amigos... será um cara estranho, chato, careta... Vai entender...

Um espírito diferente tem que baixar, um espírito diferente...

Uma homenagem ao professor Zéu Palmeira Sobrinho.

EU TAMBÉM TENHO UM PAI

Tenho um pai que vive a vida no seu tempo.
Na infância, foi criança como pôde,
Nos tempos da imaturidade, foi imaturo,
Na juventude foi enérgico como um jovem autêntico e ideológico,
E hoje, na maturidade, mostra-se maduro, aprendendo com a vida.

Meu pai é um homem de poucos erros e muita bondade,
O mal que fez foi sem má fé, por engano ou fraqueza, talvez.
No entanto, na vida não há justa causa,
E por isso recebeu o peso de suas decisões precipitadas, ou infelizes, talvez...
Decisões próprias da vida...

Meu pai é um homem das letras, da razão,
E na maturidade, um homem de fé.
As reflexões sempre fizeram parte de sua vida,
Uma lúcida compreensão da realidade nos mostra,
E, também com o uso da razão, matutando alcançou o mistério,
O mistério da espiritualidade, da paz.

Hoje, vive feliz, na visão, na reflexão, no viver.
Na vida a dois procura amadurecer,
Não se cansa de aprender, não se cansa de aprender.

Por tudo isso és o meu maior professor,
Que me ensinou com a vida e me ensina com as palavras.
Nos erros, um bom exemplo a se afastar,
Nos acertos, muitos acertos, desafios a alcançar,
De solidariedade, desapego material, de luta por direitos.

És meu pai, és meu mestre,
Por isso te amo.

E este é o maior legado:
Aprender com a vida.

     “E se um dia a dor lhe abraçar,

      Seja forte,

      Seja luz,

      Nada mais.”

Ave de arribação, com certeza é o que sou,
Ave de arribação, com certeza é o que és.

Teoria da Prática Jurídica...

Dizem que a universidade é muito teórica e pouco prática. Que ela é mais voltada para a formação de pesquisadores e cientistas, do que para a preparação do profissional para o mercado de trabalho convencional.



Tenho uma história interessante a esse respeito:



No curso de Direito, a primeira disciplina prática ocorre apenas no 7º período, com o nome de Prática Jurídica I.



A ansiedade era real, pois pensava que finalmente, depois de mais de três anos de teoria em sala de aula, teríamos atividades externas, nos fóruns, assistindo a audiências, acompanhando processos, como se fôssemos advogados. É o que se imagina.



Foi uma surpresa. Aulas normais, dentro da sala de aula. Aulas sobre prática jurídica... A mesma coisa de sempre.



Penso comigo: porque então se chama Prática Jurídica? Seria melhor Teoria da Prática Jurídica, ou, para ficar mais bonito, Teoria Geral da Prática Jurídica; poderíamos até abreviar para TGPJ...



O que não poderia ser é Prática Jurídica, para não causar mal entendidos.



Bem... Ainda não foi dessa vez.

PRINCÍPIOS...

Pelos corredores da universidade, flagrei um colega de turma conversando com um professor sobre a importância do Direito Constitucional na formação jurídica dos alunos. Entendiam que a Constituição deveria ser estudada durante todo o tempo da graduação, pela sua relevância; não apenas durante 1 (um) ano e secundarizada nos outros 4 (quatro).

A Constituição é a espinha dorsal da ordem jurídica. Ela é fundamental porque é principiológica, e princípio é a coisa mais importante para o direito. Sem ele o direito se afasta da justiça, seu fim, e perde a razão de ser. Sem ele é medíocre, estritamente técnico e arbitrário; com ele é virtuoso, analítico e justo.

Um advogado me disse que um princípio derruba um código. Vale mais que lei, norma, artigo, inciso ou parágrafo.

Princípio é tão importante, tão forte, tão imponente, quase sagrado, que não deveríamos nos aproximar dele de qualquer jeito, às pressas, com banalidade. Não deve ser falado em 5 minutos e “pulado” para o próximo assunto. Quero dizer, princípio não deve ser meramente conhecido, mas “encarnado”. A final de contas, princípio é ideologia...

Deve ser assimilado, internalizado racionalmente, sem pressa, através de uma reflexão crítica, amplamente debatida. Podemos até rejeitá-lo ou admiti-lo com reservas, mas sempre o entendendo ideologicamente. Discutir princípios no direito é compreendê-lo ideológico e politicamente. Mas ninguém quer saber disso...

Portanto, princípio não é um assunto, é o assunto; o vetor mais importante, com força, direção e sentido.

Venho de uma aula. O que é isso?

Venho de uma aula na Universidade, na qual uma professora entra, começa a falar continuamente sem parar, até ser interrompida por um aluno ousado que faz uma pergunta; ela responde e imediatamente com ar de pressa continua a falar, falar, até ser novamente interrompida; e então segue por mais ou menos uma hora e meia neste ritmo até se despedir de nós. O que é isso? Uma aula? Uma obrigação?

Não sei por que valorizo tanto o ambiente escolar e acadêmico; não sei se é porque meu pai é um professor nato e por isso recebi sua influência, mas o fato é que aprendi a importância do conhecimento e provei da euforia do aprendizado, quando feito como troca e interação entre as pessoas.

Aprendi que o professor não é nem de longe o único detentor do conhecimento – em outro sentido pode ser aquele que mais precise aprender – e que o aluno não deveria ser tão passivo em uma sala de aula. Porque fazer de uma aula um sacrifício? Não dói, estamos em um ambiente estruturalmente confortável, com pessoas dispostas a trocar experiências – seja ela qual for. Não há ameaças, agressões, poluição de qualquer gênero. Por que é tão ruim estar em uma sala de aula? Porque os alunos hoje se fazem presentes só para responderem à chamada ao final ou para meramente fazer uma prova em breve?

Não há alegria, não há entusiasmo, não há nada... Olho para frente, vejo um robô que solta uma gravação pré-programada; olho para o lado, vejo robôs parados, esperando a aula acabar... Me dá desespero, raiva, revolta, tristeza, tenho vontade de sair (mas lembro que tenho que responder à chamada), tenho vontade até de chorar... O que me consola são as conversas paralelas que tenho com os vizinhos – pois não consigo me conter parado – e também quando vejo outros colegas fazerem o mesmo, pelo mesmo motivo. Me consola porque vejo que na verdade não somos robôs, somos gente, que nascemos para a interação e para a troca, para o crescimento e aprendizado mútuos.

É tão bom conversar, todos gostam; porque então não fazer da sala de aula um momento de conversa, partilha, troca, debate, discussão, ensino e aprendizagem? Por que um só dando e os outros só recebendo? Que aleijo é esse? Como se diz: o “professor” fingindo que ensina (cumprindo com sua obrigação) e os alunos fingindo que aprende (cumprindo com seu dever). Isto me ofende porque acho que posso contribuir também e tenho certeza que os meus colegas também podem, mas não nos permitem isso. Sinto com se não acreditassem em mim, que não me deixam falar porque o que tenho a dizer não merece confiança, o que eu tenho a dizer é inútil ou errado, sinto o mesmo em relação aos meus colegas.

É incrível como, quando saio de uma aula como essa, saio me achando um burro, um jumento, que não sei de nada, etc. Dá desespero, preocupação, medo, sei lá o quê. Mas quando saio de uma aula onde todos puderam participar, saio motivado, entusiasmado, pensando que, apesar de ainda ter muito o que aprender sobre o direito, estou no caminho certo, vou chegar lá, etc.

As coisas poderiam ser mais fáceis, ou, pelo menos, menos difíceis. Aluno precisa de incentivo, motivação, provocação (no bom sentido da palavra), não de ameaça ou disciplina exagerada. Ele precisa pensar, não reproduzir; criar, não copiar; discordar, não concordar; em fim, ele precisa atuar, ser agente, colaborador; ele precisa aprender com a experiência, com a troca e a interação; e não se colocar como um mero expectador de uma ciência que vem para ele de fora pra dentro goela à baixo!

Me revolta ver dezenas de estudantes com um potencial fantástico dentro de si, mas que no colégio e na universidade são tolhidos, sem espaço, sem direitos, sem nada. Quem sai prejudicado somos nós cidadãos, que não recebemos os frutos de sua experiência, sua inteligência, seu potencial. Muitos no trabalho desabrocham, o que é ótimo, mas outros, como uma professora, nem no trabalho...

O que é isso? Quase um crime.

Amar é saber cuidar

Amar é saber cuidar
Fazer feliz o ser amado
É poupar quem você ama
Evitar ser machucado

É uma arte complicada
Para os que são imaturos
Os que são inconsequentes
E não pensam no futuro

É preciso descobrir
Que não estamos só no mundo
Que o outro também sente
Que seu coração não mente
Quando dói bem lá no fundo

Temos que sair de si
E pensar no ser amado
Colocar-se em seu lugar
E agir pra conservar
Quem se ama apaixonado

Conquistar a cada dia
Mostrar sempre o amor que sente
Que a chama ainda é acesa
Não perder a gentileza
Ser às vezes paciente

Só se aprende a amar alguém
Praticando dia a dia
Sempre com seriedade
Refletindo de verdade
O que fez e o que faria

Temos sempre que aprender
Melhorar a relação
E dos erros cometidos
Tirar sempre uma lição

Não perder a alegria
Não perder a emoção
Saber dar boas risadas
E ter sempre umas piadas
Pra qualquer ocasião

Cultivar o amor ardente
Não deixar morrer a chama
O desejo por quem ama
Deve sempre estar presente

É cuidar do ser amado
Proteger c'unhas e dentes
Aprender com o bom soldado
Destemido e bem armado
Vigiar os "inocentes"

E pros homens que ainda amam
Uma mulher ou uma menina
É preciso mergulhar
Não temer nem se afogar
Dentro d'alma feminina