Formação nada cidadã...

Tenho percebido que nossa educação, da família à universidade, passando pela escola, é a de saber como as coisas são ou devem ser, sem questionamentos ou discussões, e isso mata as potencialidades de qualquer um. Tudo é tão relativo, para ser pronto e acabado... A vida é tão reticências, para ser ponto final... A ciência muda tanto, para ser uma verdade absoluta... Valoriza-se quem detém o maior volume de conhecimento – seja ele qual for – e não quem adquire uma capacidade crítica sobre eles.

Na escola, estudamos detalhadamente as briófitas: plantas que medem dois centímetros e vivem sei lá aonde. Estudamos seu tecido celular, sua respiração e trocas gasosas, sua vascularização e reprodução, como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. Mas pouco se fala do desmatamento da Amazônia, de desenvolvimento sustentável, de biodiversidade ou desperdício de água potável. Eu era fera em trigonometria, mas até hoje não sei pra quê... Meu problema é com o orçamento familiar, que só usa as quatro operações...

Na universidade, no curso de direito, ninguém quer discutir nada. Só quer receber aquele conhecimento “pronto” e absorvê-lo; fazer uma prova e receber o diploma; passar num concurso e receber o salário. Por isso que ir pra aula é um saco (ah!, se não fosse a reprovação por falta...). Ninguém quer saber mais de professor: em casa mesmo leem o livro e adquirem o conhecimento. Mas com livro não há diálogo: há sim uma pregação doutrinária, quase sagrada, diante da qual ou você escuta calado ou fecha o livro. Agora, discutir, dialogar, construir um conhecimento a partir da experiência de todos: só na sala de aula. Mas o professor não se presta a isso (ainda querem ser os “mestres” de outrora, transmissores de um saber superior), muito menos os alunos, com outras preocupações.

Pergunto novamente: que formação é essa? Os códigos de Processo Civil e Penal estão prestes a serem substituídos, porque certamente não estão servindo. A sociedade critica-os e muito, mas na universidade, no nosso casulo, estudamos estes códigos como se fossem eternos e os melhores. Não discutimos o que há de ruim neles, as possíveis mudanças que virão, ou as reivindicações da sociedade, que pressiona, clama por justiça e espera mudanças, muitas mudanças. Apenas aguardamos o novo código entrar em vigor, os livros serem publicados, para a gente ler e ficar sabendo como é agora. Legal, não é? A gente não quer participar.

A gente não quer participar porque nunca fomos acostumados a isso. Porque, desde o ventre, recebemos uma formação, não de cidadãos, mas de súditos. Súditos de meia dúzia pensante, que, mesmo de boa fé, por ser apenas meia dúzia, podem errar muito mais.