Ninguém me cutuca

Gostaria que a gente pensasse mais em como vivemos. Na razão de ser de cada atitude mais elementar do dia a dia. Trata-se de uma espécie de "auto-análise", que faz muito bem e nos ajuda a enfrentar as contradições da vida em sociedade. Não farei comparações com o passado, porque não o experimentei. Deixo esta tarefa para os mais experientes...

Penso que nunca fomos tão exibicionistas como hoje, com essas redes sociais. Este blog reforça a argumentação, já que, se não quisesse "aparecer" com minhas idéias, escreveria em um diário pessoal, trancado a cadeado... Mas algumas coisas perdem o sentido e a autenticidade, especialmente quando se trata das "curtidas" e "comentários" no Instagram, Facebook e etc.

Tenho visto pessoas pedindo a outras para os curtirem nas redes sociais, a fim de que suas publicações façam o máximo de "sucesso" possível... Já vi gente dizendo: "curte, mesmo que não goste, para me ajudar"... Ou melancólico, porque sua foto (dentro do banheiro, no carro ou na academia) não foi "bem curtida"... As pessoas utilizam as redes sociais para pedirem admiração, reconhecimento e atenção nas próprias redes sociais! E não se pensa em outra coisa: todos querem ser artista de televisão, como se isto fosse a melhor referência para a nossa vida...

Não sei se preciso dizer que o virtual jamais conseguirá substituir, à altura, o real. A gente quer fazer sucesso publicamente, porque não o consegue privadamente, com quem está ao nosso lado, nos vendo de verdade... A gente quer "curtidas" - mesmo que falsas - porque talvez não receba um abraço caloroso, uma amizade confiável, um "eu te amo" inocente, um sexo menos performático...

Parece que a gente desistiu de "querer ser". Parece que a gente decidiu "parecer ser"... Tá todo mundo sempre sorrindo, sempre feliz, sempre alto astral, sempre bacana, sempre bonito e arrumado. Só que isso é deprimente, depressivo... Parece que perdemos o rumo de vez... Parece que desistimos de amar... Parece que desacreditamos de nós mesmos e desaprendemos a curtir as coisas boas da vida...

Aprecie com moderação!

IMPRÓPRIO PARA MENORES DE 18 ANOS.

"MAMA
(Valesca Popozuda e Mr. Catra)

Muita polêmica! Muita confusão! Decidi parar de cantar palavrão,
Então por isso, negão, vou cantar essa canção

Quando eu te vi de patrão, de cordão, de R1 e camisa azul
Logo encharcou minha xota e ali percebi que piscou o meu cu
Eu sei que você já é casado, mas me diz o que fazer
Porque quando a piroca tem dona é que vem a vontade de fuder

Então mama, pega no meu grelo e mama
Me chama de piranha na cama
Minha xota quer gozar, quero dar, quero te dar

Quando eu te vi no portão, de trancinha, tamanco e vestido azul
Logo latejou o meu pau e ali logo vi que piscou o seu cu
Puxei sua calcinha de lado e dei três cuspidas pro meu pau entrar
Então eu fiquei assustado, porque você só queria mamar

Então mama, pega minha vara e mama
Vem deitar na minha cama".

...

Perdoe-me! Não conseguiria apresentar o tema em discussão, sem mostrar a letra na sua íntegra, já que a intensidade, neste caso, é relevante. Mas não se apavore. Esta é apenas uma única canção, de uma única banda, de um único gênero musical, dentre incontáveis outros semelhantes que bombam entre nós... Seja nacional ou internacional, do nordeste ou do sudeste, na periferia ou nas baladas mais elitizadas.

De alguns anos pra cá, tenho tentado fugir aos moralismos e à hipocrisia. Gosto de sexo e quem me conhece sabe que também consumo conteúdos musicais (e não musicais) desta natureza. Mas é que "a diferença do remédio para o veneno está na dose"...

Não me atemoriza a existência desta música, deste CD, deste grupo musical, ou qualquer outro. O que me preocupa é a proporção que esta cultura representa no consciente coletivo de toda uma geração - especialmente de crianças e adolescentes - que estão se formando... Em muitas e muitas localidades espalhadas por todo o país, milhares e milhares de pessoas nascem, crescem, reproduzem (bastante) e morrem, sob a incansável overdose destes ensinamentos, condicionando, forte e inevitavelmente, a sua visão de mundo, de gente, de valores; suas escolhas, seu comportamento...

Defendo a liberdade - sexual e de expressão -, porque são manifestações naturais do ser humano e imprescindíveis à sua felicidade. Mas até a liberdade - principalmente ela - precisa ser desfrutada com racionalidade, responsabilidade e ética. A liberdade também pode contraditoriamente oprimir, aprisionar e escravizar, dependendo do uso que dela se faça. Uma caneta pode servir ao poeta, como ao assassino... É uma questão de adequação.

Não é a censura, a lei ou o decreto; nem a hostilidade, a discriminação ou a violência que mudarão essas coisas... Absolutamente. A vida é muito mais e muito maior que tudo isso. Só que apenas alguns tem acesso ao melhor que ela nos oferece. Somente a alguns é permitido apreciar e desfrutar da imensurável beleza que existe fora da caverna.

Quando assisti na TV a funkeira fazer sua performance, no programa de Ana Maria Braga, pensei que Rubem Alves, Adélia Prado, Leonardo Boff ou Frederico Mattos também poderiam tomar café com ela... Por que não?