A saga do Coronel Zé Vieira

Os cineastas desempregados, sugiro o roteiro de biografia do Coronel Zé Vieira.

Menino diferente, que já nasceu de bigode, o qual, mesmo ainda ralo e transparente, sinalizava sua vocação de autoridade sobre os devotos e valentes sertanejos da Paraíba. Aos nove anos, com o bigode um pouco mais encorpado e escurecido, profetizava do alto da pedra, em frente à igreja, que seria o primeiro prefeito do povoado que, naquele momento, jamais imaginaria constituir-se cidade um dia. E atraía pessoas...

Como todo homem iluminado, alguns o caluniavam de louco, mas ele não era louco, era profeta. Na adolescência e juventude, ensaiou sua voz de comando, primeiro com pessoas mais próximas e depois com desconhecidos, obtendo admirável êxito. Era obstinado por seus objetivos e desenvolvia o espírito de liderança sobre os mais humildes. Mostrou-se desde muito cedo empreendedor, um homem de negócios...

O tempo passou e quis o destino, em meados dos anos 90, sob o comando do Governador Mariz, fundar o município de pouco mais de 5 mil habitantes, batizando-o com o nome desinteressado de "Marizópolis". Aquele homem não era louco, era profeta.

E tudo se cumpriu. Coroou-se rei do alto da pedra e, com um bigode negro e robusto, devidamente aparado pela assessoria, fez desse cajado uma missão pra toda vida. Isto porque, dos cinco mandatos majoritários que coleciona a história do município, o Coronel Zé Vieira - como é conhecido na região - é dono de quatro, sendo forçadamente intercalado no meio, pela eleição de sua sobrinha, por causa de uma previsão constitucional que não tem a mínima graça. Mas, nesses quatro anos, não descuidaria de seu povo: assumiu a principal secretaria da administração pública e continuou a exercer sua liderança quase que da mesma forma, delegando as assinaturas para sua pupila.

Enfrentando com inteligência as dificuldades da gestão de um município escasso de recursos, tem conseguido, ano a ano, a aprovação política das contas na Câmara Municipal, ainda que prévia e reiteradamente reprovadas tecnicamente pelo Tribunal de Contas. A final, todo poder emana do povo, que, no caso, é representado pelos Vereadores e não pelos Auditores e Conselheiros. Demonstra segurança e serenidade frente à condenação da Justiça por Improbidade Administrativa, que o afastou do cargo somente por algumas semanas, influenciado pelas falácias da oposição e pelas intempéries do Órgão Ministerial. Porque você sabe: sempre cabe recurso, e uma liminar por enquanto...

Agora, com o acúmulo de experiência, de político fez-se artista de televisão. Entrevistado recentemente pelo repórter secreto do Fantástico, no quadro "cadê o dinheiro que tava aqui?", num caso de desvio de mais de 200 milhões de reais, envolvendo fraude em licitações e superfaturamento de obras em 80 municípios da Paraíba, com aquela mesma serenidade e um bigode já acinzentado - refletindo o ciclo da vida - assegurou para o Brasil que estava tudo em ordem, para nossa alegria...

E assim, segue na direção da porta estreita, pelo caminho tortuoso, mas recompensador, carregando sua cruz. Com uma confiança sempre inabalável de que "mil homens cairão a tua esquerda e dez mil a tua direita, mas tu... Tu! Tu não serás atingido!".

Marina Silva e eu

Ela é uma figura confusa, cujo perfil e personalidade diverge entre os próprios opositores. Para os que se dizem de esquerda, ela é uma traidora do movimento, que se aliou a grupos de elite, reacionários. Para os conservadores mais ferrenhos, ela não passa de uma comunista enrustida, que ainda mantém intimidade com o PT. Para ambos ela é covarde e dissimulada, e, por isso, ainda mais perigosa.

Para mim, e correndo o risco de também estar errado, ela é uma pessoa que viveu e aprendeu. Que se permite modificar com as experiências. Que vive em processo, em movimento. Que não admite a estagnação, cultural, intelectual, ideológica. Mudou de religião, de partido, mudou. Cresceu. Amadureceu. Melhorou. Marina não é a mesma pessoa do passado. E talvez não seja do presente. Marina aponta para o futuro.

Uma histórica ambientalista de carteirinha, que se permitiu entender e reconhecer, publicamente inclusive, a importância do agronegócio. Que há alguns anos tem a iniciativa de se aproximar de ruralistas para trocar figurinhas. Para a decepção dos ambientalistas, para a desconfiança dos ruralistas... Uma histórica militante petista, que não aceitou a esquerda pela esquerda, o poder pelo poder... A cartilha pela cartilha. Que não aceitou ficar com o ideal, mesmo quando o real lhe apresentava coisa distinta...

Decidiu declarar apoio a Aécio no 2º turno, em 2014, ainda sob o legado do Mensalão. Teria sido mais fácil se esquivar na omissão. E, naquele dia, na segurança secreta e confortável da urna, hastear uma das bandeiras, como muitos fizeram. Hoje, na égide da Lava Jato, e suas revelações sobre o tucano, diz que, se tudo houvesse sido revelado à época, não teria preferido nenhum...

Não demoniza partidos nem pessoas, mas também não santifica. Não elege culpados e inocentes, deixa isso para a Justiça. Não vê a punição como vingança, mas como reparação. Sem ódio, mas com compaixão. Apoiou o impeachment, porque entendeu que Dilma cometeu crime de responsabilidade, e que o Brasil não se sustentava mais com ela. Defendeu a cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE, porque entendeu que cometeram, ambos, severas irregularidades na campanha. Seu partido protocolou o pedido de cassação do mandato de Eduardo Cunha, com êxito. Ela opina, ela se expõe, mas não histericamente como a gente gosta. O faz ao seu modo, mais discreto e educado do que o convencional. E, sobretudo, respeita e acata decisões. Como acatou a prisão de Lula, com responsabilidade e sem ressentimentos.

Descobri com o tempo, só com o tempo, que essas não são atitudes covardes nem dissimuladas, mas corajosas e autênticas... É tão mais fácil manter-se fiel aos ideais da juventude, mesmo quando o transcurso vida nos mostra coisas novas... Mudar é mais difícil do que permanecer igual. Vi Brizola morrer igual e isso me causou admiração há época. Chorei de emoção. Mas não penso mais assim. Não é possível que tudo o que a vida tem pra nos mostrar o faça até os vinte e cinco anos... Mas aos dezoito a gente já se sente pleno. Equivocadamente pleno... Aos trinta e cinco, sinto minha mente ainda confusa, ainda imatura, ainda em desenvolvimento... Talvez aos cinquenta ou sessenta eu vá montando o quebra cabeças, ou talvez nunca...

Nos cinco anos como Ministra do Meio Ambiente, no governo do PT, no auge do seu poder e da corrupção, conta que ninguém, ninguém se aproximou dela para sequer, sequer propor qualquer ilegalidade... Parece que as pessoas percebem quando a gente se permite, não é mesmo? Ao contrário do que alguns pensam, divórcio não significa necessariamente traição, o adultério sim... Ela se divorciou de muitas coisas, para se manter fiel... Sem mágoas e sem guerras com os antigos companheiros...

Mas essa não é a política que a gente gosta. Porque a gente não gosta da paz. A gente gosta da guerra. Da guerra santa. A gente gosta mesmo é de se sentir um soldado do bem, missionário da verdade. Nada como um demônio para fazer a gente se sentir um anjo... É bom triunfar diante da prostração do inimigo. Pisar na cabeça da serpente, sem pena...

A paz é sem graça, porque nela não há vencedor (para que ninguém perca). Ninguém fica por cima (para não rebaixar ninguém). A paz não cativa, é serena e madura. Já a guerra é contagiante, poderosa e cheia de vigor!

Sigo, Marina e eu, entre decepcionados e desconfiados... Sem muito alarde, sem muito ibope... Intimamente convencido de que o remédio para a radicalidade é a moderação...

Facção Cruzmaltina

"Um rei mal coroado,
não queria o amor no seu reinado,
pois sabia, não ia ser amado".
(Geraldo Azevedo)

Não conheço um único vascaíno que goste de Eurico Miranda. Aliás, não encontrei quem o detestasse menos que eu. Nisso, e somente nisso, consiste a minha esperança, que foi severamente massacrada na madrugada de hoje.

Essa era a noite da libertação, mas não... Essa era a noite da mudança, da virada, da guinada, mas não... Essa era a noite do futuro, mas foi do passado, que insiste em se fazer presente, porque ele insiste em se fazer presente...

O Vasco parou no tempo e permanece nas trevas. Não acompanhou a virada do século e o novo paradigma que marcou as administrações empreendedoras e dinâmicas dos grandes clubes brasileiros.

Essa nação, que mais vem parecendo uma facção, insiste em querer se encolher, cujo chefe perpétuo e paranoico mais se preocupa em reinar no gueto que chamou de seu - o São Januário -, relegando ao abandono e sofrimento os apaixonados que fazem a quinta maior torcida do Brasil, presentes nas cinco regiões e cinco continentes. Esse mafioso do charuto, que jamais fez um único gol ou sequer vestiu a camisa em campo, chegou a expulsar da tribuna de honra do estádio o nosso maior ídolo e goleador, Roberto Dinamite, apunhalando injustamente e sem perdão mais de 7 milhões de corações cruzmaltinos! Com quem está a honra, meus amigos? Quem merece o trono?

Não acompanho a política interna do Vasco, assim como a grande maioria. Para nós, é incompreensível como esse mandachuva ainda permanece comandando e destruindo o clube, sem que tenha sido jogado portão à fora, pelos braços democráticos do povo, há muitos anos... Não entendemos como esse falsário continua vendendo ilusões e promovendo corrupções, enganando e comprando pessoas e votos... Ninguém quer mais se aproximar dele (exceto o gueto). O time de basquete, por exemplo, planejava angariar R$ 8 milhões em patrocínio, mas não encontrou uma única marca que quisesse se associar ao clube! Apesar de tudo, a facção não sabe viver sem ele...

A administração do Vasco segue a toada da política do Rio de Janeiro... E, se assim continuar, e se continuar por muito tempo, essa facção poderá atrofiar o time de glórias em um clube de gueto, mediano e regional, com piscinas e quadras poliesportivas para os associados... Aos domingos, veremos Eurico Miranda sugando uma maminha na tradicional churrascaria centenária, sentado numa cadeira de plástico reforçada, sentindo-se um rei...