Baby Brasil


Lembro de estudar história e tudo me parecer das cavernas. Tempos remotos, que até o historiador seria capaz de esquecer... Para mim era como um conto de fadas, outro mundo, outra história, bem diferente da minha. Eram datas e fatos que tínhamos de decorar e responder na prova, pouco mais do que isso... Deodoro da Fonseca, por exemplo, era praticamente um ancestral, de uma era geológica qualquer... A barba e o bigode só confirmavam minha tese.

Tudo mudou para mim quando inventei de fazer as contas - de mais e de menos. Vovô Belo (pai de mainha) nasceu há apenas 12 anos do império de D. Pedro II! Nasceu também a apenas 13 anos do tempo da escravidão! Aliás, o período da escravidão compreende escandalosos mais de 75% da história do Brasil (contados desde o seu "descobrimento")! Isso, para mim, desafia as leis da natureza e da matemática principalmente. Desafia a própria história. O sentimento é de completa desorientação...

Vamos combinar que vovô não pode ser história. Vovô é vovô. Vovô é presente! Em estado de surto psicótico, fui obrigado a concluir que o Brasil não tem história. Só presente! Me enganaram a vida inteira... A história de que falamos é coisa de nossos avós e bisavós! O funcionário público que vi na TV ontem (com 99 anos de idade) abocanha, sozinho, praticamente 20% da história do Brasil! Isso não é história, porque história é passado. Acho que querem me enlouquecer...

Sigo anestesiado, com o convicto sentimento de que o Brasil é um bebê. Que ainda está aprendendo a andar com as próprias pernas, ler e escrever e, é claro, votar também.

Determinismo


O homem é produto do meio. O homem é produto do meio? O comportamento das pessoas é ou não fruto do contexto histórico, social, econômico, cultural, familiar, afetivo, etc? Se tudo influencia, até onde vai a nossa liberdade? Até que ponto somos de fato responsáveis por nossas escolhas? O livre arbítrio por si só justifica a independência do homem diante de tudo que o cerca? Somos mais fortes que nós mesmos? Ou somos marionetes de uma poderosa superestrutura que nos domina?

As pessoas são iguais ou diferentes? Em quê? Na sua essência, a espécie humana é a mesma de séculos passados? Mudamos muito, nada ou só um pouco? Por que tantos finais iguais para tantas histórias semelhantes? Por outro lado, como explicar reações tão surpreendentes, quando nem mesmo o mais entusiasmado dos humanistas seria capaz de arriscar? Será que faríamos a diferença em outro contexto? Somos mais bacanas do que eles, mesmo? Tá no sangue, no gene, na alma, aonde está? Está em algum lugar? O bem se aprende? O mal se ensina? Violência gera violência ou isso é verdade só para os violentos?

Existe uma massa de gente, mas que vivem escondidos. Gente que a gente não conhece, e que por isso talvez nem exista... Gente violentada, mal amada, ignorada, desprezada. Gente com quem a gente não se preocupa. Gente que só atrapalha. Gente ruim, alma sebosa, que não quer voltar pra casa, que não quer estudar, que não quer ser alguém na vida... Gente-lixo, que deve ser jogado fora, para não contaminar os outros. Gente que mata, morre, gente sem razão, sem sonho, inconsequente, mas que sabe muito bem o que está fazendo... Gente estranha, esquisita, gente errada, gente mesmo diferente.

Gente que quando fica grande a gente enjaula (e que fique enjaulado para sempre). Gente que vai matar nosso filho, a velhinha, a criança, o homem de bem... Gente com quem a gente tem que tomar cuidado, porque vai nos matar também...

Gente que não faz parte. Porque não quis, porque não quer. Gente contra quem a gente clama justiça! Que deve pagar pelo que fez. Gente burra, que escolhe o pior caminho. Que sabe que não é certo, que não vai chegar a lugar algum, mas mesmo assim escolhe. Gente que pede pra apanhar, pede pra morrer... Gente que só resolve levando um pau bem grande, pra vê se... Se ajeita.

bota bota bota

Quem nunca "butou"? Aquilo naquele canto? Calma leitor, estou sendo generalista: aquilo é qualquer coisa e aquele canto é qualquer lugar... O fato é que estamos sempre "butando" e não se vive sem "butar". Eu, particularmente, boto frequentemente e os médicos dizem que só faz bem...

Acontece que estou sendo vítima de uma sadia (porém injusta) discriminação no trabalho, por causa das minhas repetidas "butadas". Sou incapaz de falar por mais de 2 min sem "butar" em qualquer das suas mais variadas flexões: "butei", "butou", "butaram", "butando", "bota", "não bota", etc. Neste requisito, parece que ando acima da média e, por esta razão, a credibilidade do meu discurso anda abaixo da média.

Não me levam mais a sério, se eu "butar"... Me sinto um semi analfabeto de São José da Lagoa Tapada conversando com os "doutores" da capital; ou um paraíba abrindo a boca no sul do país... Estou divertindo as pessoas sem contar piadas - e sem ser remunerado, o que é mais grave. A sorte deles é que eu sou um legítimo sem vergonha, porque, nesses tempos de bullying, só pelo constrangimento, eu "butava" um processo em cada um e veríamos quem ri por último... Mas não precisei "butar" nada (para a sorte deles). Fui redimido com uma bênção apostólica.

O mundo é testemunha de que o Papa "butou"! O Papa! O cara do momento, que destronou Barack Obama. Se até o Papa "butou", se até Jesus (segundo ele) "bota fé nos jovens", eu acho que não só posso como devo "butar" livremente, sem reservas. Inclusive, aconselho você a "butar" mais comigo. Ou melhor, bote sozinho mesmo. Você não precisa de mim para isso...

Essa é a história do camarada Bota que, relegado e discriminado na sociedade, saiu da clandestinidade, assumindo repentinamente um status eclesiástico da mais alta patente, virou celebridade e, mesmo sem saber, encheu de orgulho o pobre coitado e humilhado cidadão que vos escreve...

Como telespectador entusiasmado, incremento, à distância, o coro dos 3 milhões de fiéis, para dizer com fé:

   - Obrigado, Papa Francisco!