Face à Face

Veja essa história:

Um colega da minha esposa organizou, com todo o entusiasmo, um encontro de seus amigos do Facebook, em uma pizzaria da cidade. Divulgou, convidou e mobilizou as massas... Quase trinta pessoas confirmaram presença, e outros tantos não descartaram a possibilidade de aparecer por lá... Foram dois meses de trabalho diário e virtual, gerando aquela ótima ansiedade de reunir pessoas "Face à Face", aprofundando as relações. Era apenas a primeira de muitas confraternizações que viriam. Já imaginava as pessoas sorrindo, aquela conversa em alto volume, gargalhadas, beijos e abraços... E viva o Face!

Metodicamente, reservou com antecedência trinta lugares no restaurante, causando euforia na administração. Tudo estava pronto e o dia, finalmente, chegara! Levou sua esposa, uma cunhada e ainda deu carona a uma amiga. Fez questão de chegar cedo, para recepcionar os convidados. Tudo deveria sair perfeito, para causar boa impressão.

Seis e meia da noite aparecem os quatro e se acomodam numa grande mesa de uns dez metros de comprimento, formada pela união de outras quinze mesas normais, unidas lado a lado, como se estivessem de mãos dadas, fazendo uma grande corrente da alegria, colaborando com a festa!

   - Agora vamos aguardar...

   - O atraso é normal, sempre acontece...

Não é invenção: às nove e meia decidiram pedir o rodízio, convencidos de que ninguém mais chegaria, além deles mesmos...

De meia em meia hora, a esposa dizia: esses teus amigos do Facebook, hein?...
De meia em meia hora, ele dizia: sacanagem, eles confirmaram...
De meia em meia hora: meio minuto de silêncio...

Comeram e comeram muito. Lotaram-se de massa, para compensar o desperdício de mesas, cadeiras e espaço no recinto...

Saciado pelo pão e enebriado pelo vinho, na hora da saída, o insistente rapaz ainda reluta:

   - Não vou desistir! Marcarei outro encontro até as pessoas aparecerem. O próximo vai ser numa churrascaria...

Começando pelo Fim

Estou tendo a oportunidade de estudar Inglês e Espanhol, depois de muito tempo. Estou motivado, querendo aprender a me comunicar, entender e fazer-me entender em outra língua. Estou curioso, interessado e tudo o mais. Matriculei-me nos estágios iniciais, compatíveis com a minha fluência quase zero dos idiomas. Nem Português eu sei falar direito.

Às vezes me acho muito crítico com relação à Educação, mas não consigo me calar, porque esses assuntos me atacam os nervos. É porque algumas coisas não me entram na cabeça... Triste de mim. Faço parte daquele grupo, que me parece numeroso, de pessoas que tem dificuldade e timidez para soltar a voz, arriscar, errar, até finalmente aprender a falar em línguas estranhas. Faço parte do grupo que abandona os cursos, porque não se adapta. Me uno a essas pessoas. Desta vez vou continuar, porque é caso de necessidade mesmo. Não tenho escolha. Sei que vou aprender, mas estou convicto de que o farei da forma errada, de um jeito mais difícil.

Mal sei falar e já estão me empurrando a Gramática estrangeira goela à baixo, declamando aquelas conjugações verbais sem fim, num decoreba martirizante... Tempos verbais, imperativo e o escambal. Aprendemos na mara! Este é o método.

Penso que o desenvolvimento de uma linguagem deve se dar naturalmente, mais com o coração do que com o cérebro, como ocorre com as crianças, em suas línguas nativas. Como aprendemos o português? Primeiro ouvimos e entendemos. Depois soltamos a voz, repetindo os nossos cuidadores. Em seguida aprendemos a ler para, ao final, escrevermos. E a gramática? Esses detalhes vêm depois, quando já adquirimos uma fluência razoável.

Antes de conjugar verbos eu quero me comunicar, compreender e ser compreendido! Não posso me obrigar a começar já falando certo, sendo corrigido o tempo todo. Isso bloqueia o aprendiz. Quero ser capaz de me expressar em outra língua, soltando a voz sem reservas - como uma criança -, mesmo que não seja da forma mais correta, privilegiando, sobretudo, a "comunicação". Quero me animar primeiro para, a partir daí, lapidar o idioma, enriquecer o vocabulário, aprofundar as regras e exceções.

Estou nos primeiros estágios martelando a gramática. Outro dia conversei com um aluno concluinte. Perguntei o que se estuda no final do curso e ele me respondeu que é só conversação. Que não vê mais gramática, nada disso. Achei uma contradição... Fiquei confuso. Seria mais coerente que eu estivesse praticando o diálogo, e que ele estivesse aprofundando o idioma detalhando a gramática...

Tive a sensação de que estou começando pelo fim...