Os muros da universidade...

Vejo a universidade como a institucionalização do conhecimento, assim como a igreja é a institucionalização da religião. Entendo também que o conhecimento é tão sagrado como a fé. No entanto, há uma diferença entre os dois: a religião é oferecida a todos, o conhecimento apenas a alguns.

Vejo a igreja abrindo as portas, querendo transmitir a religião, e as pessoas resistindo... Vejo as pessoas querendo receber o conhecimento e a universidade fechando as portas, resistindo... É curioso. O movimento é inverso: um libera, o outro retém. Não concebo a ideia de se ter que mendigar o conhecimento, porque ele é de todos, pertence à humanidade. Mas infelizmente é isso que tenho visto.

Fico desconcertado, até mesmo constrangido, quando vejo na universidade, por exemplo, 500 pessoas querendo cursar uma pós-graduação, quando apenas 5 poderão fazê-lo. No meu vestibular mesmo: dois mil queriam fazer o curso, mas só havia quarenta vagas. Isto significa que nada menos que 95% não conseguirão, ou seja, o conhecimento é negado a quase todos e disponibilizado (com muito esforço) a apenas cinco por cento dos desejantes. Tem alguma coisa errada.

É por isso que me agrada a existência de universidades privadas. Se o Estado não consegue dar oportunidade a todos os milhares que desejam adquirir uma formação em nível superior, outras instituições deverão fazê-lo. O conhecimento não pode ficar retido. Quanto mais conhecimento se disseminar na sociedade, melhor. Teremos melhores eleitores, melhores trabalhadores, melhores empresários, melhores consumidores, em fim, melhores cidadãos, o que certamente beneficiará a todos.

Na minha universidade, sinto falta dos negros, dos pobres, dos deficientes; sinto falta dos oprimidos, marginalizados e excluídos; porque sei que o conhecimento liberta, inclui, trás cidadania e independência. Alguns grupos precisam ter acesso ao conhecimento, que existe há séculos e não é propriedade de ninguém... Por isso sou favorável à política de inclusão das cotas. Não podemos negar o acesso ao conhecimento justamente àqueles que mais precisam dele. Isso não está certo.

O nosso país é muito carente de médicos. O conhecimento técnico-científico da medicina existe (é milenar) e é capaz de salvar vidas e prevenir mortes... Precisamos de muitas, muitas pessoas que possam recebê-lo para, em fim, aplicá-lo em benefício dos milhões espalhados por este Brasil continental... Este conhecimento não pode ficar enclausurado pelo Estado nas universidades públicas, distribuído às migalhas. O conhecimento não pode ser monopólio do Estado. Isto é até perigoso. Se outras instituições particulares querem oferecer a formação médica, sejam bem vindas! Nós precisamos.

Quero ver as universidades públicas crescerem, ampliarem e se desenvolverem. Quero o mesmo para as privadas. Quero ver o conhecimento se espalhar como uma epidemia viral, como um refrão de Aviões do Forró ou um pancadão do baile funk...

Não pense o amigo que esqueci de considerar a qualidade destes cursos. Isto é um problema, um grave problema. Mas tenha certeza, tenha certeza que a solução não é fechá-los...

Os muros da universidade devem cair, como caiu o muro de Berlim. E um novo mundo se abrirá para muitos. De conhecimento, oportunidades e realizações. Enfim, de dignidade e cidadania. Eles também merecem.

Ditadura

Foi realmente um tempo difícil, no qual eu nunca queria ter vivido. O pai da minha esposa, querido Charles, que hoje não está mais entre nós, era artista plástico e foi tentar a vida no Rio de Janeiro. Lá, conheceu a juventude "enérgica" daquela época e passou a colaborar na produção de um jornal clandestino de vertente socialista. Fazia desenhos, essas coisas. Ele me disse que não tinha envolvimento político com o movimento; era só para ajudar os amigos.

Certo dia, num bar, foi surpreendido por policiais, que o detiveram juntamente com uma colega. De olhos vendados, foram levados a um lugar desconhecido no meio da mata. Ficou preso por algumas horas, enquanto torturavam sua colega num lugar mais afastado - ele não via, mas ouvia. Por sorte conseguiu escapar dalí, cavando a terra por baixo da cerca. Fugiu e foi parar de madrugada, todo enlamaçado, numa grande avenida, quando ficou a salvo...

Inclusive, na abordagem policial ainda no bar, "furaram" a mão de Charles com seu próprio lápis de trabalho, como forma de intimidação. O fizeram com tanta força, que o grafite ficou encravado dentro de sua pele e nunca foi retirado.

Meu pai, ainda criança, voltando da escola a caminho de casa, nas proximidades do colégio Lyceu Paraibano, em João Pessoa, uma bala perdida passou muito perto da sua orelha... De vez em quando, ele e seu amigo tinham que se esconder, por causa dos confrontos... Meu avô, militar, sempre o alertava: "José, fique longe dessas coisas...". Era a ditadura.

Quantos não conseguiram escapar? Em quantos a bala acertou? Era a ditadura...

Dizem que a pior democracia vale mais do que a melhor ditadura...

Ditadura só é bom (se é que podemos chamá-la assim) para quem está do lado dela...

Não podemos admitir um regime de governo que seja intolerante às diferenças.

Por isso não se esqueça: melhor do que tudo isso é a democracia. Bem ou mal, é a democracia.

Bullying

Bullying está na moda. Sendo assim, quero aproveitar o momento para relatar algumas situações das quais fui vítima e outras que presenciei com alguns amigos e colegas. É uma forma de protesto, que sirva para a reflexão de todos.

Sempre fui um aluno relativamente comportado, comunicativo e, até certo ponto, agradável, o que me fez ser sempre bem aceito por alunos e professores. Amigos não me faltavam. Foi somente no ensino médio que eu passei por alguns constrangimentos e humilhações, intensos ao ponto de hoje caracterizá-los como bullying.

As coisas começaram quando me distanciei consideravelmente do meu duradouro e coeso grupo de amigos, até então juntos há mais de cinco anos, convivendo diariamente. Distanciei-me porque conheci outras realidades, outras pessoas (minha esposa inclusive), em fim, outros "mundos", diferentes daquele ao qual estávamos acostumados e seguros. Passei assim a me dedicar também a outras coisas e outras pessoas, e não somente a eles.

As reações não demoraram. Justiça seja feita: não houve agressões físicas; neste ponto me respeitaram. Por outro lado passaram a me chacotear constantemente na escola. Encontravam sempre um motivo para me ridicularizar publicamente perante a turma ou, durante o intervalo, no pátio da escola, perante os alunos das outras séries. Começaram a me caricaturar no quadro negro, para que todos rissem de mim (e riam). Chegaram ao ponto de me amarrar na carteira da sala, durante o intervalo, esperando a volta dos demais alunos, para que todos pudessem me ver ali, preso... Sentia-me realmente humilhado. Acho mesmo que foi bullying.

As coisas só amenizaram a partir de quando, em sala de aula, não aguentando mais as humilhações, tendo chegado ao meu limite, me retirei, fui à coordenação e, chorando, delatei um de meus colegas, que foi retirado da sala imediatamente, intimidando os demais. Com o tempo, alguns até me pediram desculpas. Com um pouco mais de tempo, pararam. Mas foram situações tristemente inesquecíveis.
Como disse a pouco, não sofri agressões físicas, mas outros do grupo sim. Era impressionante como faziam tudo gratuitamente, apenas para rirem e fazerem os outros rirem daquela pessoa que, naquele momento, não era gente, era uma "coisa" nas mãos deles.

A adolescência é uma fase difícil e complicada. O papel das autoridades (pais, professores, coordenadores e outros responsáveis) é fundamental e indispensável para estabelecer os limites e impor o respeito.

Cidadania também se ensina e também se aprende.