Uma aula de perseverança

Este texto é uma colaboração do meu amigo Luís Henrique,
que, generosamente, enriquece este espaço
com o seu talento e suas reflexões.


Por que ficar confinado em uma sala de aula convencional, entediante e sem graça, se um espaço imenso, ao ar livre e com visão privilegiada da cidade e das montanhas que a limitam, nos espera? Foi esse o cenário escolhido pela professora e crianças da foto acima para exercitarem o que os especialistas pomposamente chamam de processo ensino-aprendizagem, embora persistam em mim sérias dúvidas quanto à motivação poética da escolha.

Alguns mais cautelosos poderiam indagar se os protagonistas da cena protegeram-se devidamente dos raios solares com o protetor adequado, tipo FPS 30 ou superior. Outros podem apontar o desconforto dos assentos ou até mesmo o calor que pode debilitar a saúde daquelas crianças sob um sol causticante.

É razoável questionar se não deveria haver um bebedouro com água geladinha, que cairia bem com esse calor. Igualmente, nenhum sinal de merenda escolar percebo. Nem preocupadas mães, em seus SUV modernos e importados, a esperar as crianças. Deve ser por causa do ambiente original e poético da foto. Não combina com essa mesmice.

Pode-se ainda argumentar que nem uma bola de futebol (ainda que tosca e desgastada pelo uso) há para entreter as crianças, que, atentas, postam-se comportadas, dividindo seus olhares e atenção com a professora e um quadro de frágil concepção, precário mesmo, insculpido diretamente na parede da edificação. Penso comigo mesmo que dali dificilmente sairá um Neymar.

Convenhamos, eu não me sentiria confortável ali, por mais bucólica que seja a paisagem que se descortina ao largo. O sol, a areia e o vento me incomodam desde já, mesmo estando aqui, do lado de fora da foto.

Não me recordo de quando criança ter-me submetido tão docilmente a uma situação desta. Mas não sou parâmetro para essa gente. Eles são bem mais nobres que eu, refém do meu comodismo urbano, burguês e dondoca.

Esses legítimos representantes dos povos morenos criados ao sol (resgatando aqui, de forma literal, o mestre Ariano Suassuna), têm no seu endereço genético os anticorpos, as imunidades, que lhes conferem uma resistência ímpar, que os faz ri, quando chorar seria mais óbvio e que vivem, quando sequer se supõe que poderiam aguentar.

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