A fome...


Todos nós temos aquele episódio dramático que mais nos sensibiliza. Pode ser o câncer, crianças com câncer, aidéticos, hansenianos (leprosos), viciados da cracolândia, moradores de rua, sem terra, órfãos, velhinhos do asilo, e essa lista não acaba, porque o que mais se tem no meio do mundo é desgraça para a gente se importar... Pois bem, nesta relação interminável, o que mais me aflige é a fome. Falo da fome absoluta, da extrema pobreza, da miséria completa, e compreendo direitinho o despertar do meu interesse: as campanhas publicitárias da década de 80 em torno da África, que culminaram na clássica produção "We Are de World", liderada por Michel Jackson, com sua trupe de popstars...

Celebridades à parte, e sem estabelecer qualquer hierarquia no rol das mazelas e enfermidades, penso anestesiado como a espécie humana, tão evoluída e tão sofisticada, convive sem maiores problemas com espaços tão díspares, distribuídos no planeta, quando lembramos por exemplo do Haiti e Dubai. E é incrível como esta realidade (em alguma medida) se repete dentro de um mesmo país, em regiões distintas, cidades vizinhas, num mesmo bairro, na mesma avenida...

Dividimos isso todos os dias, com a naturalidade de quem vai para o trabalho...

Não acho que o Estado tenha obrigação de patrocinar a felicidade das pessoas, que devem ser donas de si. Mas nascer no meio da fome, da miséria, do completo abandono, sentenciado à morte e ao sofrimento, sem que se tenha cometido qualquer delito, não me parece nada aceitável... As nações são ilhas, quando se trata de solidariedade; as fronteiras são abismos, quando se trata de pobreza; porque, quando o assunto é riqueza, a lógica é exatamente oposta, até as últimas consequências...

Existe um limite a partir do qual a tolerância deixa de ser fashion, a retórica não convence e a filosofia não encanta... No meio da miséria, só o socorro interessa. O resto aborrece.

A medir pela propaganda, acho que a África superou seus problemas de inanição... Graças a Deus!

Nenhum comentário:

Postar um comentário