Bigode Grosso

A cultura popular é uma coisa maravilhosa. Um fenômeno espontâneo, que brota não sei de onde, não sei de quem, emergindo valores e costumes de uma comunidade, e que, por causa desta identificação genuína, se irradia rapidamente. De certo modo, é uma manifestação que representa o povo ou parcela dele. Mas alguns amigos têm me ajudado a analisar as coisas com uma cabeça mais independente dos credos e das ideologias. Assim, nem tudo o que é popular deva ser necessariamente bom... Tenho evitado generalizações.

Gosto da liberdade e até mesmo da extravagância. Sinto-me intimamente seduzido por padrões que fogem ao que convencionamos por "politicamente correto" (se é que isso existe). Refiro-me a um modo de vida mais verdadeiro e menos neurótico, que não teme revelar aquela outra parte que a gente esconde, o nosso lado meio vagabundo. Por isso, consumo Gilberto Gil e Psirico, sem grandes conflitos. Tenho medo dos falsos moralismos, mais ainda dos moralistas.

O funk (não somente ele) descreve sem arrodeios os valores mais caros da nossa sociedade: o dinheiro, o sexo e o poder. Ideais perseguidos não apenas pela periferia, mas principalmente pelos mais abastardos, e também por eu e você. Ratifico Silvio Santos: quem não quer dinheiro? E digo mais: quem não gosta de sexo? Quem não quer ser autoridade ou referência naquilo que faz? (isto lhe confere poder). Neste sentido, o funk é fiel.

Mas minha crítica extrapola o funk e minha preocupação se dirige a esta filosofia reinante. A esta pirâmide invertida, que coloca o importante como "o mais importante" (isso faz toda a diferença), e que trata o essencial como suplemento... Quer ser careta? Fale de amor. Amor comprometido e responsável, que sofre e sofre com orgulho. Fale também em desfrutar da companhia das pessoas - de graça -, mais do que dos lugares e das rotas turísticas... Fale em ser uma pessoa boa, mais do que importante...

Lamento a receita da felicidade, cujos ingredientes são carros de luxo, piscina com mulheres para orgia, dinheiro caindo como folhas das árvores, ouro e drogas para potencializar a performance... Não imagino o que esperar de uma nação que cresce e se desenvolve nutrida por valores como estes... O pobre quer ser simplesmente rico, sem qualquer melhora, sem qualquer aprendizado, sem qualquer legalidade. O rico... Também.

Eu até que respeito o moço. Mas discordo de quase tudo o que ele diz...

Um comentário:

  1. Oi Léo.
    Concordo com você quando sintetiza que todo mundo quer ser referência naquilo que faz.Concordo, também que os valores mais buscados são exatamente dinheiro, poder e todas essa coisas cantadas no Funk. O mundo está de pernas para o ar. Acho ótimo me sentir diferente. Ver as pessoas,as coisas, os cheiros e sabores.Como você o meu mundo não é imaginado com luxo e lixo. Seu texto, mostra um pouco de seu pensamento: limpo e preciso.
    Lourdinha

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