O altruísmo organizacional

Pra falar bem a gente dá nome aos bois. O cara é Vicente.

Quem me conhece sabe da queixa que tenho com relação à falta de cooperação entre funcionários de uma mesma empresa. Tenho dito que nunca aprendi nada sozinho e tudo aprendi. Minha mãe me ensinou a andar, meu pai a correr, meu irmão a pedalar, minha avó a rezar e por aí vai. O que não tenho é vocação pra autodidata. O conhecimento é para ser partilhado, porque não pertence a ninguém (ou a todo mundo, como queira).
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   - O que é qualquer coisa? Pergunta fulano.
   - Abra a enciclopédia ou pesquise no google. Responde sicrano.
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Acho que não é bem por aí... Precisamos uns dos outros.

Vi uma colega do trabalho sofrer educadamente porque simplesmente não sabia o serviço, já que ninguém a ensinara. Seus pares estavam de férias e o abacaxi estava ali, para ser descascado. Procurou um e outro (inclusive eu) e cada um tinha as melhores desculpas... Na verdade, o egoísmo da vida também está nas organizações. Tenho o meu serviço, minha demanda, minhas responsabilidades, meus problemas, minhas prestações de contas ao chefe, sei lá o quê... De tudo nós temos, não é mesmo? De catarata a catapora...

Vicente também tinha tudo isso. Tinha catarata e catapora. Mas ele é daquelas pessoas iluminadas, que de vez em quando a gente vê por aí. Eu vi, meninos eu vi, Vicente parar dois ou três dias para ensinar àquela educada mulher. Ou melhor: para aprender junto com ela, porque ele também não sabia. Ser servidor é servir e ser exemplar é dar exemplo. Pois bem, posso dizer que conheço um servidor exemplar, e o nome dele é Vicente.

Na contramão das novas tendências, consciente de que ensinar aos colegas é, no final das contas, trabalhar menos, pensou grande e esqueceu o próprio umbigo, para nos lembrar que os outros também têm umbigos. Tão feios como o nosso.

Um comentário:

  1. Oi,

    Legal. Muito bo mesmo. Ter "Vicente" é difícil. Mais custoso é, ainda, ter gente que reconheça e divulgue as qualidades de "Vicente". Há mesmo uma cultura de não se ensinar o serviço aos servidores que chegam para que não represente ameaça aos antigos. Conferi isso ao vivo e a cores em alguns lugares onde passei. Inclusive, na Academia, em cursos de pós-graduação. O ensino por vezes era superficial e quando se questionava o fato o professor desconversava. Parabéns Léo, parabéns Vicente por entender o sentido da palavra servidor.
    Maria de Lourdes

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