Eu tiro o chapéu para Ulisses Guimarães

Outro dia vi o senador Pedro Simon (um dos raros políticos que ainda tenho prazer em ouvir) contar uma belíssima história sobre o carismático Ulisses Guimarães. Coisa de gente grande, mais do que isso, postura de homem espiritual, que coloca os ideais acima das oportunidades da carreira. Veja que exemplo!

Com o fim dos vinte anos de ditadura militar no Brasil, finalmente acordaram em escolher um civil para presidente (eleito pelos parlamentares). O nome de Tancredo Neves foi consensual, pois, apesar de ser do partido de oposição, não era dos mais radicais, sendo por isso aceito pelos adversários. O vice era Sarney (que possuía boas relações com os generais).

Ocorreu que (como todos sabem) o infeliz do Tancredo adoeceu e morreu "antes de tomar posse como presidente". Os militares já foram logo providenciando a faixa para Sarney. Mas como podemos empossar o vice-presidente de alguém que nunca foi presidente? Da mesma forma que Tancredo nunca chegou a ser presidente do Brasil (oficialmente), Sarney nunca chegou a ser vice. Como poderia ele então suceder no cargo? Faz sentido... A Constituição dizia que, neste caso, o presidente do Congresso Nacional assumiria provisoriamente, até que se realizassem novas eleições.

Só que o presidente do Congresso Nacional era justamente, o odiado pelos militares, Ulisses Guimarães. Tinha ele portanto a oportunidade de chegar a presidência por determinação da própria Lei. Os seus correligionários (dentre eles, Pedro Simon) partiram inflamados contra a posse de Sarney, com justiça.

Aí aparece a grandeza deste homem. Com a alma elevada pela humildade e os olhos focados no futuro da Nação, sabia que assumir o governo naquele momento causaria, certamente, embaraços à redemocratização do país. Assim, sem dar bolas para a vaidade, apaziguou os ânimos da oposição e convenceu os colegas a permitirem a posse de Sarney. E tudo transcorreu sem maiores problemas...

Por isso eu tiro o chapéu para Ulisses Guimarães.

Uma cena emocionante que guardo dele é quando, concluídos os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, no discurso de encerramento, ele grita:

   - Temos ódio à ditadura! Ódio e nojo!

Um exemplo de coragem e idealismo.


Obs: veja o discurso de Ulisses Guimarães:




Um comentário:

  1. Eu tiro sim o chapéu para o exemplo de coragem e de amor à liberdade que ele foi.

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