Trans

Fiquei um pouco impressionado quando ouvi Thammy (filha de Gretchen) falar da alta ocorrência de suicídio entre os transexuais. É bom explicar: o gay é um homem, que quer ser homem, se sente homem e gosta de outros homens. A lésbica, da mesma forma: ela gosta de ser mulher, se vê mulher, e deseja mulheres. Mas o trans é diferente.

São homens (biológicos) que se percebem mulher e querem ser reconhecidas como tal. E vice-versa. Ou seja, a identidade do sexo não corresponde à do gênero. Muitos - não todos - se sentem inconformados com a própria anatomia sexual: não suportam o seu pênis, não toleram sua vagina, repudiam os próprios seios e por aí vai... Esse conflito torturante, indesejável e incontrolável, somado às pressões da família, às tradições, à exigência dos padrões, aos conceitos e pré-conceitos da sociedade, levam muitos a tentar diminuir o sofrimento, preferindo a morte... Parece que são muitos...

Pensando mais, acho que às vezes somos meio trans também... Porque essa não identificação consigo mesmo nos acompanha, aqui e acolá, em tantas situações, em maior ou menor grau... Quando permanecemos naquele trabalho humilhante, quando suportamos aquele marido violento. Quando fazemos o curso que não gostamos, quando investimos na carreira que sabemos que não tem nada a ver com a gente... Quando namoramos sem paixão, quando casamos sem amor... Quando não temos coragem de expressar nossas reais opiniões, por medo de não concordarem com elas, para não descobrirem quem somos de verdade... Às vezes a gente esconde tanto, que o que sobra para os outros já nem nos revela mais...

Tem gente que também se mata quando olha para si e se dá conta que encaminhou sua vida para lugares, pessoas, atividades e rotinas... tão fora de sua órbita, que, perdido no tempo e no espaço, já nem se reconhece mais...

E a vida passou...

E não passamos de uma vaga lembrança de nós mesmos...

E não há mais tempo (nem memória) pra descobrir quem a gente era...

E a gente, simplesmente... Não é mais.

Eu sigo meu caminho torto. Meio trans, meio eu. Me perdendo no outono, e me achando - de novo - no inverno.

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