Heraldo

Heraldo pra cá, Heraldo pra lá... Heraldo era um personagem frequente nas narrações do meu pai. Expressava admiração... Curioso foi saber recentemente que ele trabalha comigo, no andar de cima e desde sempre.

Apareci anunciando o parentesco, enchendo de saudade os olhos de um grande amigo... Conversamos e conversamos muito, recontando a história, que, desde os tempos de escola até o primeiro emprego, se confundiam.

Os jovens paraibanos aventureiros, recém diplomados, se dispuseram a desbravar o país, com todo o idealismo, oferecendo suas técnicas na construção da lendária Rodovia Transamazônica - como um recruta que vai para a guerra com patriótico e inconsequente entusiasmo. Mas o destino os desembarcou antes, em Teresina...

Estudaram juntos e juntos prestaram vestibular. Juntos cursaram a mesma faculdade e juntos também passaram no mesmo concurso: Heraldo em primeiro, meu pai em segundo. Por vários anos estiveram assim, lado a lado, numa parceria verdadeira de jovens e amigos. Descobriram a vida, cobriram as mulheres, foram felizes...

Mas as parcerias se desfazem quase sempre, não é mesmo? Os divórcios superam os casamentos nesse nosso mundo tão civilizado e evoluído, quanto confuso e contraditório... Sem olhar para trás, meu pai continuou sua aventura nas curvas da vida, por direções difíceis de explicar, em sentidos quase que opostos...

Percebo um certo lamento, um questionamento sobre a separação... Penso que este discreto sofrimento, esta carinhosa dúvida, seja de todos nós, inclusive do meu pai... Não sei se devo pedir desculpas...

Na memória, persistem as lembranças, que não servem apenas para ser lembradas, mas sentidas, e sentidas como se fossem hoje...

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