Dos 15 aos 30...

Passados trinta anos, posso dizer que muita coisa mudou. Acompanhe meu relato:

Aos 15, fui à dermatologista cuidar das caspas. Fiz a queixa. Ela observou, recomendou um shampoo, foi com uma lupa no meu rosto e disse:
   - Compre esse remédio para combater as espinhas... [o quê?]

Não queria tirar minhas espinhas, apenas as caspas. Não me incomodava com elas. As espinhas são algo muito pessoal para um adolescente, como a calvície é para o idoso... Acho que ela deveria ter perguntado, antes, se eu queria fazer o tratamento. A final de contas, não eram tantas assim... Resultado: fiquei aborrecido e não tratei, nem as caspas, nem as espinhas.

Aos 30, fui ao dermatologista cuidar das caspas. Fiz a queixa. Ele observou, foi com uma lupa na minha cabeça, recomendou um shampoo, e disse:
   - Compre esse remédio para combater a calvície... [o quê?]

Falou com a simplicidade de quem prescreve um medicamento para espinha, sem se dar conta do impacto que isto representa para um trintão (disfarçado de vinte) como eu. Um verdadeiro rito de passagem, para o qual eu não estava nem um pouco preparado. Lembrei-me dos meus quinze anos e das minhas espinhas...
...
Mas, desta vez, pensando bem... Acho que vou cuidar da calvície...

Minha reverência

Não posso passar esta data (dia do professor) sem dizer qualquer coisa.

Muitos de nós, durante a infância, passa mais tempo com o "tio" ou a "tia" da escola, do que com os próprios pais, ocupados legitimamente com o trabalho. Eu fui uma dessas crianças. A nossa educação é feita em casa e na escola, pelos pais e professores. Por isso a minha reverência!

Sou filho e neto de professores, e acho que isso fez nutrir naturalmente em mim uma grande admiração pelo ambiente escolar e acadêmico, reconhecendo desde cedo a importância deles na nossa formação. Provei também da euforia e libertação que o conhecimento pode trazer ao ser humano, quando passa a reconhecer-se como cidadão e entender um pouco mais do mundo a sua volta. E o professor é talvez o maior responsável neste processo.

Não sou autodidata. Não gosto de estudar sozinho. Gosto é do conhecimento compartilhado e discutido em sala de aula, para o enriquecimento de todos. Prefiro o professor ao livro. Prefiro o diálogo ao monólogo. Não admiro o mestre. Quero um professor mais amigo, simples, que se "rebaixa" ao nível de nós pobres alunos, para nos emprestar um pouco de seu conhecimento, experiência e maturidade, me fazendo feliz. O professor para mim é sagrado.

Não quero dá um de sindicalista, mas penso que esta classe seja a mais desvalorizada do Brasil. Não consigo compreender que um professor seja pior remunerado do que eu, que trabalho num cargo de nível médio, executando um serviço administrativo, altamente burocrático e repetitivo. Não consigo digerir essa informação...

Presto, através desta simples postagem, minha homenagem aos professores do mundo inteiro, desejando a eles o entusiasmo necessário para realizar seu ofício, tão nobre e desafiador; sonhando com o dia em que eu possa carinhosamente chamá-los de "meus colegas de profissão".

Ai que saudade me dá!

Sempre ouvi dizer que meu pai colecionou muitos amigos durante a sua vida. Vejo pessoas, que nem conheço, dizerem isso, fazendo o filho se sentir modestamente orgulhoso. Sou suspeito pra falar, mas realmente ele tinha uma conversa demasiadamente agradável. Um homem simples, que, por princípio e personalidade, não fazia distinção de pessoas. Em seu trabalho na área educacional, certamente fez amigos e deixou saudades...

Escrevo esta postagem, porque fui surpreendido, há poucos dias, pela publicação de uma foto do meu pai no jornal Correio da Paraíba, na página do colunista Anchieta Maia, acompanhada da descrição "Ai que saudade me dá". Me surpreende, depois de tantos anos afastado deste ambiente, e sem uma razão aparente, ele ser lembrado desta forma.

Deixo aqui o sincero agradecimento de toda a família ao colunista Anchieta Maia e sua equipe, pela pública homenagem, também com o coração cheio de saudades e boas lembranças... Ao meu pai, ofereço o que há de melhor em mim. E que Deus o tenha em bom lugar...


Comício em Beco Estreito

Em comemoração às eleições municipais, que estamos vivenciando, apresento o célebre e bem humorado poema do paraibano Jessier Quirino, que descreve com maestria o que acontece em muitas das cidades desta nossa pátria amada, Brasil:

COMÍCIO DE BECO ESTREITO
(Jessier Quirino)

Pra se fazer um comício
Em tempo de eleição
Não carece de arrodei
Nem dinheiro muito não
Basta um F-4000
Ou qualquer mei caminhão
Entalado em beco estreito
E um bandeirado má feito
Cruzando em dez posição.

Um locutor tabacudo
De converseiro comprido
Uns alto-falante rouco
Que espalhe o alarido
Microfone com flanela
Ou vermelha ou amarela
Conforme a cor do partido.

Uma gambiarra véa
Banguela no acender
Quatro faixa de bramante
Escrito qualquer dizer
Dois pistom e um taró
Pode até ficar melhor
Uma torcida pra torcer

Aí é subir pra riba
Meia dúzia de corruto
Quatro babão, cinco puta
Uns oito capanga bruto
E acunhar na promessa
E a pisadinha é essa:
Três promessa por minuto.

Anunciar a chegança
Do corruto ganhador
Pedir o “V” da vitória
Dos dedo dos eleitor
E mandar que os vira-lata
Do bojo da passeata
Traga o home no andor.

Protegendo o "monossílabo"
De dedada e beliscão
A cavalo na cacunda
Chega o dono da eleição
Faz boca de fechecler
E nesse qué-ré-qué-qué
Vez por outra um foguetão.

Com voz de vento encanado
Com os viva dos babão
É só dizer que é mentira
Sua fama de ladrão
Falar dos roubo dos home
Prometer o fim da fome
E tá ganha a eleição.

E terminada a campanha
Faturada a votação
F#da-se povo, pistom
F#da-se caminhão
Promessa, meta e programa…
É só mergulhar na Brahma
E curtir a posição.

Sendo um cabra despachudo
De politiquice quente
Batedorzão de carteira
Vigaristão competente
É só mandar pros otário
A foto num calendário
Bem família, bem decente:

Ele, um diabo sério, honrado
Ela, uma diaba influente
Bem vestido e bem posado
Até parecendo gente
Carregando a tiracolo
Sem pose, sem protocolo
Um diabozinho inocente.