Passados trinta anos, posso dizer que muita coisa mudou. Acompanhe meu relato:
Aos 15, fui à dermatologista cuidar das caspas. Fiz a queixa. Ela observou, recomendou um shampoo, foi com uma lupa no meu rosto e disse:
- Compre esse remédio para combater as espinhas... [o quê?]
Não queria tirar minhas espinhas, apenas as caspas. Não me incomodava com elas. As espinhas são algo muito pessoal para um adolescente, como a calvície é para o idoso... Acho que ela deveria ter perguntado, antes, se eu queria fazer o tratamento. A final de contas, não eram tantas assim... Resultado: fiquei aborrecido e não tratei, nem as caspas, nem as espinhas.
Aos 30, fui ao dermatologista cuidar das caspas. Fiz a queixa. Ele observou, foi com uma lupa na minha cabeça, recomendou um shampoo, e disse:
- Compre esse remédio para combater a calvície... [o quê?]
Falou com a simplicidade de quem prescreve um medicamento para espinha, sem se dar conta do impacto que isto representa para um trintão (disfarçado de vinte) como eu. Um verdadeiro rito de passagem, para o qual eu não estava nem um pouco preparado. Lembrei-me dos meus quinze anos e das minhas espinhas...
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Mas, desta vez, pensando bem... Acho que vou cuidar da calvície...
Mas, desta vez, pensando bem... Acho que vou cuidar da calvície...