Porque ele vive

Hoje faz um ano da morte do meu pai. Parece menos. Dizem que as pessoas não morrem, mas permanecem vivas nas lembranças dos que ainda estão nesse mundo... Acredito mesmo nisso. Como dizer que pessoas como Sócrates, Gandhi, Francisco de Assis, Buda, o próprio Jesus, e tantos outros que você recorde, não estejam vivos? Estão vivos e muito vivos (mais do que eu e você)! Suas lições e ensinamentos continuam modificando (para melhor) a vida das pessoas mundo à fora. Neste sentido são eternos...

Para mim, meu pai continua vivo. O que recebi dele durante os anos de convivência, o que ouvi dele nas prazerosas e entusiasmantes conversas, seus discursos (gostava de discursar), suas reflexões, suas idéias (sua ideologia), seu imenso amor pela vida, sua esperança contagiante, sua fé amadurecida, são coisas das quais jamais esquecerei... Tudo isso continua vivo (e muito vivo) dentro de mim, o que inevitavelmente continuo a repassar, natural e subliminarmente para aqueles de minha convivência... Tenho certeza que muitas pessoas também carregam em si algo do meu pai.

Deixem eu contar uma história que me comove.

Na missa de 7º dia, uma pessoa querida avistou o meu pai de pé, vestindo uma roupa simples (como era de costume), em uma das entradas da igreja, sorrindo e observando as pessoas se confraternizarem. Quem viu é católico e não acredita nessas coisas. Contou-me dizendo que os olhos lhe "pregaram uma peça", mas que viu, viu. Se ele estava espiritualmente ali, naquele momento (coisa que eu acredito), nunca saberemos ao certo. Mas isso não é o mais importante. O importante é que ele vive!

Pra terminar, deixo uma poesia feita pelo meu pai:

desejos consciência

De coisas eternas, queria ser.
Bondade, infantil bondade, queria ter.

Da pura verdade, queria viver.
Sabedoria, humilde sabedoria, queria ter.

Dos desejos mil, tanto evitei possuir.
Simplicidade, tudo simplicidade, queria ser.

Das paixões humanas, humanas paixões eu vivi.
Quis amar, fiz sorrir, fiz sofrer.

Efêmero, consciente estou.
De alma eterna, viajante sou.

jdantasdiniz.jr
maio/2006

4 comentários:

  1. Bom dia Léo,

    Entre as coisas que acredito está a filiação. É algo que transcende. Um pai, uma mãe, vivo ou morto será sempre referido, a lembrança é recorrente. Um pai como o seu é difícil esquecer, mais parecia um irmão. Sempre de bom humor, um astral excelente, um educador consciente, um homem de seu tempo. Os acertos e erros na vida de Dantas aconteceram como acontece a todos. Não existe vacina apta a excluir enganos, erros, falhas. Ainda não temos um manual de instrução. Temos um código de ética fantástico e simples, a oração do Pai Nosso.
    Eu, particularmente, lembro-me do sorriso aberto, da alegria de viver, do olhar cheio de amor com que ele olhava para você, parecia extasiado. Quando o conheci achei-o um tanto quanto cético, com o passar dos anos vi como estava errada. A lição não acabou com a morte dele. Mas isso é outra história, é onde fico cética. Um grande abraço e que Deus o conserve sempre assim: lúcido, sem perder a ternura e que Neruda (por seus admiradores) não me renegue. Um abraço. Lourdinha

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  2. "O importante é que ele vive"! Lindo! Parece que, enquanto houver lembrança, há vida... mais que isso, mesmo sem ela, continuaríamos a existir?!
    Penso também que o importante é o amor, o amor que dá vida a tudo e a todos dentro de nós. Que este amor nunca nos falte e nos guie através dos modelos que temos, modelos que nos fazem refletir e nos ajudam na compreensão de nós mesmos e na escolha de por onde ir. Modelos de amor, carinho, perseverança, crescimento, cuidados, e porque não de fragilidades também...
    Feliz aquele que tem a oportunidade de amar e ser amado e não abre mão dela... Acredito que Dantas tenha sido feliz, pois se permitiu recomeçar sempre que necessário. Fica em paz!

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  3. E hoje eu acordei assim... numa saudade sem fim! Que falta meu Deus, que falta!

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  4. Posso te dizer, Mônica, que eu também queria ele aqui, comigo... Vivo, imaginando o que ele me diria em cada coisa... Que falta!

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