E é na cabeça!

O meu assalto recente não passou de uma brincadeira. Foi uma tentativa frustrada e tudo saiu muito bem. Ele até devolveu meu celular, sem eu sequer o pedir.... O homem foi solidário, mas foi esperto também. Percebeu que o aparelho não lhe daria muito futuro. Preferiu sair de mãos vazias, do que passar vergonha perante os comparsas, com um produto de quinta categoria, o que serviria apenas para desqualificar sua performance. Dignidade acima de tudo!

Conversávamos três amigos expansivamente à meia noite, em uma rua escura e sem movimento, sozinhos, na calçada de um clube, com a porta do carro aberta e desfrutando ingenuamente da segura liberdade de trinta anos atrás...

Discretamente, a moto chega e:

   - Escora todo mundo na parede. Se fizer qualquer coisa eu dou um tiro, e é na cabeça!

Apesar da exclamação, ele foi sutil. Voz branda e sem euforia, conduziu tudo como uma encenação de adolescente... Acreditou que não tínhamos nada a oferecer, elogiou meu colega e partiu em busca de outra vítima mais interessante.

Pensando depois em casa, conversando com a minha esposa, cheguei a algumas conclusões. Toda essa tranquilidade não diminuiu o nosso risco. Mata-se assim mesmo, por brincadeira. A banalidade colocou a vida humana como uma simples moeda de troca: "O relógio ou a vida!", "o celular ou a morte!", "dez contos de réis ou um tiro na cabeça!"...

Foi embora. Mas poderia ter disparado na saideira... É quase a mesma coisa...

Desde quando despertei, sempre que me lembro, tenho um embrulho nas tripas...

Essa é a vida, essa é a morte.

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