15 de janeiro

15 de janeiro... Este dia nunca será comum para mim. Era o aniversário do meu pai... O próprio som da pronúncia desta data ou o desenho da sua escrita já causa alguma coisa por dentro... Era especial. Mesmo sem eu fazer festa quando desejava-lhe o tradicional "Feliz Aniversário", meio desconcertado.

Antes de ele partir (mas já doente), escrevi uma coisa meio poema, meio prosa, intitulado "Eu também tenho um pai" (postei até no blog). É que meu pai havia escrito um texto chamado "Eu tenho um pai", sobre o meu avô. Aí tive a idéia de fazer o meu para ele. Painho até comentou no meu blog, na época, lembrança que guardarei para toda a vida (confiram se quiser).

No dia de hoje vou contar sobre uma iniciativa que ele teve, já aposentado por conta da doença (câncer de próstata). Era certamente uma forma de preencher o seu tempo e sua mente, o que poderia fazê-lo de várias outras formas, mas escolheu essa, porque era um educador-professor nato.

Residia à época num sítio em Gurugi, zona rural do município do Conde/PB. Área pobre e quilombola. Teve a idéia de dar aulas de Física e Matemática aos sábados, voluntariamente, para aqueles jovens do ensino médio que se preparavam para o vestibular. Não havia sala, nem carteiras, nem cadernos, nem lápis..., mas conseguiu tudo isso mobilizando a comunidade, dialogando com o sindicato e a prefeitura, e ainda contando com a colaboração de instituições como a Maçonaria (apesar de não ser maçom).

Gostaria de ter assistido a pelo menos uma dessas aulas, mas ele me narrou como foi a primeira, mais ou menos assim:

Alunos presentes e ele desenha no quadro-negro o mapa da Paraíba. Com o giz, marca dois pontos, um bem ao interior e outro no litoral, e os alunos olhando... quando ele começa a explicar.

   - Estão vendo esse ponto aqui? É o Quilombo das Contendas, onde minha mãe nasceu. E este outro é o Quilombo de Gurugi, onde vocês nasceram. Os pais da minha mãe eram analfabetos, igual aos pais de vocês. Mas quando minha mãe tinha nove anos, uma pessoa da família retirou ela de lá, para poder estudar, e aos 14 anos ela volta como professora na cidade. Ela descobriu logo cedo a importância da educação, que livrou ela da miséria. Foi a única da família que teve estudo e a única a formar todos os sete filhos.

   - Vocês estão tendo a oportunidade de escrever uma nova história na família. Os seus pais não tiveram essa oportunidade. É você quem vai dizer se quer continuar vivendo como os seus pais, passando necessidade, ou se vai querer fazer uma história diferente, como fez a minha mãe. O estudo é o que pode melhorar a vida de vocês e da sua comunidade...

Falava coisas assim. Encorajando aqueles meninos... Mesclava os conteúdos com esses discursos... Era assim que ele fazia. Era assim que ele ensinava.

3 comentários:

  1. Um educador nato mesmo! Sentia-se em casa em meio aos jovens e sabia falar a linguagem deles. Os cativava e envolvia facilmente, gostava de ensinar-lhes sobre a vida. Amava o conhecimento e estava sempre aberto a aprender algo mais.

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    1. É verdade, Lu. Ele amava o conhecimento e estava aberto a aprender sempre mais.

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  2. Obrigado pelas palavras. É sempre bom ouvir elogios como este, que nos estimula a seguir em frente...

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