Não jogo e não gosto de jogo. Nunca joguei porque tenho a mais tranquila e serena convicção de que não ganharei. “Fulano ganhou na loteria!”. Nem me incomodo... “Sicrano levou não sei quantos milhões pra casa!”. Não tô nem aí... Beltrano virou milionário do dia pra noite!”. Pouco me importa.
Mas uma coisa mexeu comigo como eu não esperava. São aqueles que quase ganharam. Marcaram as dezenas corretas, enfrentando uma probabilidade de 1 em 50 milhões (nada fácil), mas não registraram o jogo na lotérica! Não ganhar porque não acertou, para mim, é lógico. Mas não ganhar porque esqueceu ou desistiu de registrar a aposta na esquina é perturbador... O quase é que me mata!
Agora, deixo a poeta traduzir o drama do quase com a sensibilidade que não somos capazes de descrever:
O quase
(Sara Westphal)
(Sara Westphal)
Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é
a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata
trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda
estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos,
nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por
essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida
morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está
estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença
dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem
até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a
alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no
meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em
tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma,
apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas
estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente
paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a
oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores
impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o
medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas
realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque,
embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
Espero um dia ganhar na loteria
ResponderExcluir