Chico Anísio, um gênio que dispensa apresentações, disse numa entrevista que era a pessoa mais feliz do mundo, porque quando chegava no estúdio já havia uma pessoa para entregar-lhe o figurino, outra para maquiá-lo, outra para arrumá-lo, outra para organizar o cenário e a gravação. Tudo para ele “se divertir” umas 10 horas por dia, por décadas. “E ainda me pagavam por isso”, dizia ele, sorrindo. Fiquei fascinado com o que ouvi. Uma pessoa que era tão apaixonada pelo que fazia, a ponto de a extensa jornada de trabalho à qual se submetia, representar para ele uma grande diversão, realizada com a maestria que nós conhecemos.
É... Tem gente que trabalha com esse gosto, como o nosso outro gênio Oscar Niemeyer, falecido recentemente aos 104 anos, trabalhando sempre, com um prazer e criatividade diferenciados. Encontro no meu trabalho pessoas assim. Cuja dedicação é intensa e ao mesmo tempo natural, porque tudo lhe causa grande satisfação. Mas devo dizer que são poucas. A maioria é a massa que, como eu, oferece seu corpo em troca de dinheiro, quero dizer, trabalha dignamente, recebendo ao final do mês um justo salário.
“O que você quer ser quando crescer?”. Isso já ficou pra trás. Era infantil, uma brincadeira, é diversão, laser ou hobby. Agora, na realidade, temos que perseguir incansavelmente aquela atividade que nos dê em troca, um dinheiro maior. Que possa ultrapassar o padrão do nosso conforto e nos ascender socialmente à classe luxo. "Lá sou amigo do rei"...
Aqui e ali encontro pessoas que me assustam e confundem. Pessoas diferentes, que têm a coragem de perseguir o risco de um sonho profissional, cujo valor é mais pessoal do que qualquer outra coisa. Aquelas que gostam mesmo do que fazem. Que acordam cansadas, mas encontram um entusiasmo genuíno pelo que desenvolvem diariamente no seu trabalho, e que por isso revestem-se de uma áurea diferente...
Tenho refletido há um tempo, que quero encontrar satisfação, não na chegada do caminho, mas no próprio percurso que leva aos meus objetivos. Não tenho conseguido esperar para ser feliz só quando chegar lá. Do contrário, quero encontrar alegria e entusiasmo na própria estrada da minha vida, independentemente do quanto progredi. Afinal de contas, quem garante que eu chegarei lá? Ou pior: quem garante que lá serei feliz?
Eu?
"Eu fico com a pureza da resposta das crianças:
É a vida. É bonita e é bonita”.
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