Pobre de marré-marré!

Conversando com um amigo ontem, despertou-me um sentimento antigo, o qual vou compartilhar com vocês.

É sobre essa tese religiosa-cristã, de acordo com a qual a fé, o comprometimento religioso e a vida santa proporcionarão benefícios da parte de Deus, traduzido na forma de trabalho, dinheiro, até mesmo carro e casa. Muitos levantam essa bandeira. É a chamada "teologia da prosperidade", que você certamente já conhece.

Mas, por favor, deixe-me fazer uma reflexão. Pense comigo.

Jesus é o centro e maior referência da fé e da doutrina cristã. Veja a sua vida. Nasceu pobre, viveu pobre e morreu pobre. Nasceu sem dignidade, fugido, no meio de animais, como bicho, "porque não havia outro lugar"... Durante a vida, chorou, sofreu e agonizou; "não tinha onde reclinar a cabeça". E morreu também sem dignidade, torturado numa cruz, seminu, como um malfeitor, trocado por um bandido da pior espécie.

Sua morte foi semelhante ao que meu avô fazia com os cabritos na sua casa: pendurava o bode num pedaço de pau, perfurava a jugular e esperava a morte vir aos poucos, agonizadamente... Terrível! E os seus maiores seguidores também não tiveram vida fácil. Pesquise.

Sugiro outros questionamentos. Jesus obrou muito milagres. Dentre eles, alguma recompensa material? Desconheço. Nunca ouvi falar que Jesus distribuía trabalho, moradia, riquezas ou conforto... Pelo contrário: "quem quiser me seguir, pegue a sua cruz e siga-me". Me parece justamente o oposto de tudo isso. Os valores de Cristo não são materiais, mas espirituais, porque, apesar de ser rei, "o seu reino não é deste mundo".

Acho super positivo buscarmos ascensão social, bons empregos, altos cargos, uma vida confortável, desde que seja por esforço e mérito, e não com trapaças. Corra atrás de dinheiro aí, que eu corro atrás de dinheiro aqui, e agradeçamos a Deus por cada conquista. Mas não faça deste seu projeto de vida um plano divino. O Mestre tem certamente outras preocupações com você...

Natal ou Ano Novo?

Fim de ano.
Os dias revestem-se de uma áurea diferente, alegre e solidária. Muitas confraternizações, muitos presentes e muitos banquetes...

São duas datas bem próximas, com comemorações mundiais. A primeira, atrelada a um dos mais marcantes episódios da história cristã, que também se secularizou ao longo do tempo: o menino pobre da manjedoura envelheceu, criou barbas brancas e hoje compra os produtos ofertados promocionalmente nas lojas, presenteando crianças, parentes e amigos, efervescendo o mercado (se não comprar é muito feio). A outra, representa o fechamento de um ciclo, que se reinicia, mentalizado com a melhor das boas intenções.

O leitor já deve ter percebido algum ranço ou ironia nas declarações acima. Me perdoe, é que tenho problemas com datas comemorativas. Não sei porquê, mas tenho mesmo. Não gosto de festejar nem meu aniversário (pode?). Que fique claro: gosto de festas, de sair e passear; não gosto é de "comemorações" (dia disso ou dia daquilo). É diferente. Por isso carrego nessa época uma certa tensão...

Se eu tivesse que responder se gosto mais do Natal ou do Ano Novo, diria que prefiro o fim de semana ao fim de ano. Mas se tivesse que escolher, ficaria com o Ano Novo. E explico o por quê.

O Natal tem um perfil introspectivo, de reflexão e exame de consciência. Momento para repensar os desafetos, as mágoas, o mal que fizemos, o que convenhamos não é lá tão prazeroso, a pesar de bastante necessário...

Já o Ano Novo é tempo de olhar para frente, sem ressentimentos, de pensar em coisas boas, de "deixar a vida me levar"... E eu, que sou traumatizado com o negócio, passo com mais leveza. Mas fica sempre algo estranho no ar...

O "pei" do gado...

Ainda falando dessa história de poluição e etc., nunca me esqueci do que o professor de geografia nos contou no ensino médio, na reta final de preparação para o vestibular. Dizia ele:

   - Quem são os maiores poluidores do Brasil?

As queimadas e os automóveis, essa é mole, manda outra.
Ele responde:

   - Não esquecam: as queimadas, o gado e os automóveis.
   - Hahahahaha... Eu entendi o "gado", comentei com o vizinho.
   - Foi isso que ele disse, respondeu o colega.
   - Pera aí, professor! Por que o "gado"?

Foi quando ouvi uma das explicações sérias mais bizarras da minha vida. Custei a acreditar. Nós temos o maior rebanho bovino do planeta. São centenas de milhares de cabeças-de-gado. Não só de cabeças, mas também de... de... ânus. Isso porque o "pei" do gado é metano puro, altamente poluente. Juntando tudo, são toneladas e mais toneladas de gases emitidos pelas flatulências bovinas... É sério.

Coitado destes ruminantes. Não podem nem peidar...

- Ó, e agora, quem poderá nos defender?!

Não sou técnico no assunto, nem mesmo ambientalista. Vejo as notícias e aos poucos vou me convencendo de que as previsões apocalípticas para o clima e o ecossistema mundiais têm sua razão de ser. Parece que o homem está mesmo destruindo a natureza, o próprio meio em que vive...

Vez por outra me pego pensando nisso. Minha maior preocupação não é com os 150 ou 500 metros de preservação da vegetação à margem dos rios, como discutem os parlamentares e ativistas na elaboração do novo código florestal. Isto é importante e digno de preocupação. Mas penso mesmo é na vida em sociedade. Neste modelo de civilização e desenvolvimento, alicerçado na exploração desmedida dos recursos naturais...

O reflorestamento é importantíssimo, mas as trilhões de folhas de papel produzidas continuamente no mundo inteiro certamente destroem muito mais árvores. E isso com tudo. O caminho parece que é mesmo o do esgotamento das riquezas da mãe terra...

Não consigo vislumbrar um modelo diferente desse que está aí. Quem não idolatra o friozinho do um ar condicionado, liberando aquele gás na atmosfera, que destrói a camada de ozônio? Como imaginar a vida sem as indústrias, que emitem toneladas de gás carbônico na atmosfera? E os veículos? Quanta poluição! Como estará o planeta daqui a cem ou duzentos anos? Não é justo que o homem, tão inteligente, esteja cavando a sepultura da própria humanidade, como um suicida inconsequente...

Agora imagine quando o mundo se reúne para discutir o problema, e os maiores poluidores, a China e os EUA, se recusam a assinar qualquer tratado comprometendo-se efetivamente com a causa? Fazendo de conta que nada existe...

Só me resta dizer:
- Ó, e agora, quem poderá nos defender?!

É preciso uma mudança de paradigma (da qual eu não faço a menor idéia).
Uma mudança de todos. De todos e de cada um...

Dia da sogra

Hoje é o dia da sogra. Apesar de ser comemorado em 28 de abril (por aqueles que têm razões para comemorar), para mim, este é o dia, porque hoje quero falar dela. Não sou muito vinculado a datas comemorativas...

Por sorte, tenho, não somente uma esposa maravilhosa, mas uma sogra admirável. Talvez "sorte" não seja a palavra certa, muito menos merecimento. A culpa é de Jesus - não tenho nada haver com isso (nem quero nutrir inveja de ninguém).

Sou de admirar as pessoas. Como se não bastasse a sua generosidade sem limites e o seu intelecto muito bem trabalhado e eclético, há algo diferente que às vezes percebo e me deixa reflexivo... A dimensão espiritual, alguma coisa metafísica, que não sei explicar.
A nobreza do silêncio, os sentimentos contidos, a sensibilidade apurada, a preocupação maternal... A paz... As convicções íntimas, encravadas... A fé...

Sabemos muito pouco de quase nada. A humildade é o caminho, o resto é vaidade.

Aos que têm sogras-problema, desejo (de coração) paciência e sabedoria.
Aos que têm sogras-solução, não desejo nada; você já foi abençoado.

Marca impressionante

À passos de tartaruga, este blog atingiu a impressionante marca de mil visualizações, das quais umas oitocentas foram minhas (não conta pra ninguém), outras cem foram da minha esposa (obrigado, meu amor, por ouvir os meus apelos), e o restante (e mais surpreendente) com a participação de vocês, ao longo de mais de dois anos e meio de existência deste "diário virtual".

Um dos motivos de eu criar este espaço foi a oportunidade de poder dizer o que penso publicamente, e me posicionar diante dos fatos e dos dilemas da vida, por mais que posteriormente eu possa mudar de idéia, o que certamente não me envergonhará - "prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela venha opinião formada sobre tudo". Se isto ocorrer, o revelarei prontamente, com alegria e racionalidade, neste mesmo batcanal.



Iniciarei, no promissor ano de 2012 (para todos nós), uma série de postagens intituladas "Eu tiro o chapéu", através das quais lançarei juízo de valor sobre vários assuntos (um tanto quanto polêmicos), na esperança de provocá-los de alguma forma - positivo ou negativamente.



Desejo construir valores importantes, dialogar problemas e exercitar a cidadania, o que para tal será indispensável a sua participação através de comentários, ratificando ou, especialmente, contestando minhas opiniões, o que certamente receberei com atenção e dedicação - só deixe minha mãe fora disso.



Mas não falarei apenas de coisas sérias, às vezes umas palhaçadas, às vezes umas bobagens...




No mais,



Muito obrigado!



O espaço é seu e sinta-se à vontade!

O véi seboso

Não sou ator, mas tenho um personagem. Surgiu espontaneamente, das brincadeiras com a minha esposa, que interpreto quando quero provocá-la (todo homem gosta de provocar a sua mulher, não tem jeito). Chama-se: "o véi seboso".

Mas quem é o véi seboso?

   - O véi seboso é idoso, se não, não seria "véi", e sim novo;
   - O véi seboso não é higiênico, se não, não seria seboso, e sim o véi "cheroso";
   - O véi seboso é meio matuto, bronco, rude;
   - O véi seboso fala grosso;
   - O véi seboso é cachaceiro;
   - O véi seboso é raparigueiro;
   - O véi seboso vê a mulher como um objeto, uma carne despersonalizada;
   - O véi seboso gosta de mandar, tem prazer em mandar;
   - O véi seboso gosta de ouvir as músicas:
         . "vou deixar minha casa e vou morar num cabaré";
         . "eu gosto de mamar nos peito da cabritinha"; e
         . "me dê uma surra, uma surra de amor".

   - O véi seboso pensa que é gente.

   - O véi seboso existe.

E você? Conhece algum véi seboso?

É vice-campeão!

Perto do final da partida entre Vasco e Flamengo, a TV mostrou faixas da torcida rubro-negra satirizando o vice-campeonato cruz-maltino... Essa é uma chacota corrente, dirigida aos torcedores vascaínos.

Perder uma final é frustrante, porque joga-se para ganhar. Mas quero aproveitar a oportunidade para criticar essa cultura do 1º lugar... Sinto-me feliz por ver o meu time (sou vascaíno, para quem não sabe) em segundo lugar do Brasil! Isso é realmente um grande feito. Pior do que o segundo, é o terceiro, o quarto, e todo o restante.

Se em tudo o que eu fizesse na vida, fosse o segundo melhor, a minha carreira seria enormemente promissora. A sua não? Imagine: aprovado em segundo lugar no vestibular ou concurso, sub-chefe da sua empresa, ou, até mesmo, vice-presidente da república...

Acho inclusive que o vice também deveria levantar a taça e fazer a volta olímpica no estádio, em grande estilo, ao lado da torcida... O que me envergonha é ver o meu time metido em falcatruas e armações, como na época do lendário Eurico Miranda.

Quero ver minha equipe competitiva, jogando com raça, amor à camisa e à torcida, com espírito de grupo e determinação; de cabeça erguida na vitória, no empate e até mesmo na derrota; com respeito e dignidade. E assim foi o Vasco neste ano. Uma postura que nos ensina alguma coisa e enche o torcedor de orgulho. O que não aceito é a violência dos torcedores intolerantes a frustrações.

Gosto da rivalidade e até mesmo da brincadeira entre os amigos, e por isso vou soltar o meu veneno:
   - Só tem moral para falar do Vasco, o Corinthians (campeão brasileiro) e o Santos (campeão das Américas, quiçá do mundo). O resto vão ter que me engolir... caladinho...

"obrar" em banheiro público

Refiro-me àquele banheiro onde muitos liberam seus excrementos, simultaneamente, no mesmo espaço, compartilhado por pessoas do mesmo sexo, conhecidas ou não, e com divisórias inseguras.

O banheiro que, apesar de ser público, é de uso individual (entra um de cada vez), não tenho problemas, parece que estou em casa. Faço de tudo lá... (não me venha com sua mente pervertida, hum?).

Nunca fui de fazer nem xixi com a porta aberta; fui criado assim. Nem de ficar nu na frente dos irmãos. Cada um tinha seu espaço, seu pudor.

Pois bem, no meu trabalho infelizmente o banheiro é nos moldes do primeiro exemplo. E o que acontece quando o intestino ataca? Não sou daqueles que “segura as pontas” por muito tempo... Às vezes tenho que ir mesmo, para evitar o mal maior. É uma aventura:

Primeiramente, passo bons minutos criando coragem... Quando vejo que a coisa tá feia mesmo, saio apressadamente. Investigo inicialmente qual dos vários banheiros do prédio está com menor movimento. Entro. Quando vejo que tem alguém, lavo as mãos pra tapear e saio. Se não tem, calma. Respiro fundo, observo disfarçadamente os arredores e procuro me convencer de que ninguém entrará ali durante os próximos cinco minutos. Nunca me convenço, mas é o jeito.

Tem vez que eu nem faço "as coisas" direito, só na expectativa de um infeliz entrar. Mas o pior não é isso. O pior é quando sou traído pelo excesso de confiança. Estou feliz, seguro, e de repente um indivíduo da casa do "b-a-r-a-l-h-o" aparece para dividir o momento comigo. O ínfimo ruído dos seus passos é suficiente para me desestabilizar por completo. Neste momento procuro o silêncio profundo, mas percebo que só consigo controlar a boca de cima... Enquanto o “barro comprido” segue o seu destino glorioso, exalando com propriedade sua fragrância e sonorização inconfundíveis, faço movimentos negativos com a cabeça, lamentando que a dignidade da pessoa humana prevista no inciso III do artigo 1º da Constituição Federal está sendo profundamente violada naquele momento. E sem direito a recurso...

Certa vez, estava eu (naturalmente desconfiado) fazendo o "número 2" no banheiro da escola - em horário de aula, é claro. Quando simplesmente o inspetor vem, coloca a cabeça por cima da porta e me vê, ali, sentado no trono ("até tu, Brutos?"):

   - Desculpa, pensei que era um aluno gaseando aula...

...(Desculpa? Por que? Só porque você subiu aonde não foi chamado pra me conferir "cagando" sobre esta cerâmica oval decorada com pitadas de urina alheia?
Não precisa se desculpar... A final de contas, a coisa mais normal do mundo é bisbilhotar terceiros "cagando" em banheiro público com a porta fechada, não é mesmo?
Mas vem cá autoridade, sem querer ser indelicado, não haveria uma abordagem mais moderna do que essa?)...

   - Tudo bem, respondi timidamente.