Foi realmente um tempo difícil, no qual eu nunca queria ter vivido. O pai da minha esposa, querido Charles, que hoje não está mais entre nós, era artista plástico e foi tentar a vida no Rio de Janeiro. Lá, conheceu a juventude "enérgica" daquela época e passou a colaborar na produção de um jornal clandestino de vertente socialista. Fazia desenhos, essas coisas. Ele me disse que não tinha envolvimento político com o movimento; era só para ajudar os amigos.
Certo dia, num bar, foi surpreendido por policiais, que o detiveram juntamente com uma colega. De olhos vendados, foram levados a um lugar desconhecido no meio da mata. Ficou preso por algumas horas, enquanto torturavam sua colega num lugar mais afastado - ele não via, mas ouvia. Por sorte conseguiu escapar dalí, cavando a terra por baixo da cerca. Fugiu e foi parar de madrugada, todo enlamaçado, numa grande avenida, quando ficou a salvo...
Inclusive, na abordagem policial ainda no bar, "furaram" a mão de Charles com seu próprio lápis de trabalho, como forma de intimidação. O fizeram com tanta força, que o grafite ficou encravado dentro de sua pele e nunca foi retirado.
Meu pai, ainda criança, voltando da escola a caminho de casa, nas proximidades do colégio Lyceu Paraibano, em João Pessoa, uma bala perdida passou muito perto da sua orelha... De vez em quando, ele e seu amigo tinham que se esconder, por causa dos confrontos... Meu avô, militar, sempre o alertava: "José, fique longe dessas coisas...". Era a ditadura.
Quantos não conseguiram escapar? Em quantos a bala acertou? Era a ditadura...
Dizem que a pior democracia vale mais do que a melhor ditadura...
Ditadura só é bom (se é que podemos chamá-la assim) para quem está do lado dela...
Não podemos admitir um regime de governo que seja intolerante às diferenças.
Por isso não se esqueça: melhor do que tudo isso é a democracia. Bem ou mal, é a democracia.
Essa imagem é simbólica e cheia de lembranças! Muitas saudades! Parabén pelo texto, concordo plenamente! Bjs.
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