Certo dia, caminhando pelos corredores da faculdade, me surpreendi com um professor ministrando uma aula para ninguém. Isso mesmo.
Estava eu atrasado para a segunda aula da noite e, encabulado, antes de entrar na sala, deparei-me com algo inusitado: não havia alunos. Meio confuso, disfarcei e, da porta mesmo, saí de fininho. Não tive coragem de entrar.
Fiquei me perguntando: porque o professor ministrava a aula? Falava para quem ouvir? Tem professor meio doido, não é mesmo? Então dei-lhe intimamente meu diagnóstico de insanidade mental, fui pra casa e tentei esquecer o ocorrido.
No outro dia, acessando o e-mail da turma, li o desabafo de uma colega, que se dizia bastante envergonhada, porque, na noite anterior, fora a única aluna presente. Pude então entender que na verdade fui eu que não a avistei. Fato curioso que a deixou desconcertada, revelava, foi o professor discursar no plural, utilizando expressões do tipo: “vejam vocês...” ou “como podem verificar...” ou ainda “percebam que...”, com se estivesse falando para uma platéia...
Porque ele falava no plural para uma única pessoa? Parece até um discurso automático, gravado, que não se pode mudar. Isso é esquisito. Tão esquisito quanto, num universo de mais ou menos 40 alunos, apenas um querer assistir a aula. Não era feriado nem imprensado. Foi desinteresse geral mesmo. Desinteresse de estudantes do curso de Direito de uma universidade federal...
Interessante foi o acordo que fizeram. Chegaram à conclusão de que um quorum muito pequeno poderia chatear o professor e fazer com que ele quisesse prejudicar os alunos. Então dividiram a turma em grupos, de acordo com a letra inicial dos prenomes. Por exemplo:
- 1º grupo: iniciais de A – D;
- 2º grupo: de E – I;
- 3º grupo: J – O; e
- 4º grupo: P – Z.
Assim os grupos se revezariam de modo a manter um quorum minimamente satisfatório, sem que os alunos precisassem assistir a muitas aulas. Firmaram um pacto de solidariedade mútua e juraram fidelidade ao contrato.
Este é um exemplo emblemático de um fenômeno que me parece comum: aluno não gosta da sala de aula. O problema é do aluno, do professor ou dos dois? Penso que o professor seja o maior responsável (talvez, quando eu for professor, pense diferente).
A aula precisa ser interessante para o aluno e também participativa. Enquanto o professor continuar a fazer da aula um trabalho dele próprio, ele vai continuar falando sozinho, porque o livro continuará sendo mais interessante...
A aula é uma construção de um grupo, do qual o aluno é a peça principal, opinando, perguntando, discordando, errando e acertando. Enfim, participando. Sem autoritarismos, arbitrariedades ou disputa de poderes...
Todo aluno é fantástico em potencialidades. Portanto, o encontro de vários deles poderia sê-lo também.
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