Meus amigos linguistas...

Logo que entrei na universidade para o curso de fisioterapia, nos matriculamos na disciplina de Português. Eu sempre fui meio traumatizado com Português, com gramática, por isso estava um pouco apreensivo com o que viria...

Já no início da disciplina, a professora fez uma atividade em sala de aula, na qual deveríamos elaborar um resumo de um texto que ela nos apresentou. Fiquei meio nervoso, mas fiz e entreguei.

Na aula seguinte, a professora disse que gostou dos nossos textos, mas um havia lhe chamado a atenção... “Quem é Leonardo?”, disse ela. Gelei e levantei a mão. Ela elogiou minha capacidade de síntese, mas se disse impressionada, porque eu cometia ERROS PRIMÁRIOS DE ORTOGRAFIA!, e ficou remoendo essa história. Sorri para ser legal e, resumindo, tranquei a disciplina.

Uns dois anos depois, já tendo desistido do curso, me matriculei numa cadeira qualquer de português (do curso de turismo, inclusive), para me preparar para o vestibular de Direito. Era uma forma de estudar português gratuitamente, já que a minha situação era preocupante, como vocês viram.

Para minha surpresa a professora era uma lingüista - eu nem sabia o que era isso. Mas ouvi coisas belíssimas, libertadoras...

Que a comunicação é o mais importante e que a fala ou a escrita se presta a essa função, portanto, se a comunicação acontece corretamente, não é uma gíria, um erro ortográfico ou uma expressão coloquial, sem o rigor do idioma, que vai prevalecer. Resumindo: o importante é o conteúdo e não a forma.

Que as variações da nossa língua (o falar nordestino, por exemplo, ou a gíria dos grupos adolescentes) não devem ser causa de discriminação. Um “s” por um “z”, um “ch” por um “x” ou um “ç” por “ss” é algo muito pequeno frente àquilo que se quer transmitir, o que se quer comunicar.

Deste dia em diante virei um “sem vergonha” para escrever. Não tinha mais preconceito comigo mesmo.

Se a comunicação entre as pessoas acontece, e acontece corretamente, isso já é belíssimo, a troca de conhecimento, de informação, de experiência, o aprendizado mútuo... Isso é o que importa.

Discriminar uma pessoa por seus erros ortográficos, sem se dar conta do conteúdo que ela quer oferecer ao mundo é reprovável, é lamentável, é combatível.

Meus amigos lingüistas um dia me libertaram...

2 comentários:

  1. Leo, todos nós sabemos muito pouco de quase nada. As áreas do conhecimento são infinitas e a vaidade pela perfeição num ponto é imaturidade e culto a um viver individualista.

    Somos todos importantes.

    Somente os surdos não recebem sensura no falar.

    Se você só expressar seu pensamento quando na certeza de ser compreendido, descubrirá que as pessoas se incomodam e se incompatibilizam com pequenos líderes.

    Só os líderes falam o que pensam aonde desejam.

    seu pai josé.

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  2. Leo, um dia juntamente com seu pai, assistimos a um discurso de uma secretária da assistência social de um município do agreste pernambucano. Ela incomodava a tanta gente lá presente, pelos seus erros grosseiros de português... as pessoas sussurravam, comentavam com gracejos, aquelas coisas. Num certo momento, eu falei: Mas tudo o que ela está falando faz sentido e o importante é que público comum a está compreendendo.
    É isso, as pessoas estão sempre preocupadas com a embalagem. Por vezes esquecem de apreciar o conteúdo. Creio que seja por desconhecer o valor dele.
    Que bom que você virou um "sem vergonha" para escrever, pois a sua oratória é encantadora e seus escritos idem.
    Um beijo grande. Te amamos.
    Monica Dantas

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