Ela é uma figura confusa, cujo perfil e personalidade diverge entre os próprios opositores. Para os que se dizem de esquerda, ela é uma traidora do movimento, que se aliou a grupos de elite, reacionários. Para os conservadores mais ferrenhos, ela não passa de uma comunista enrustida, que ainda mantém intimidade com o PT. Para ambos ela é covarde e dissimulada, e, por isso, ainda mais perigosa.
Para mim, e correndo o risco de também estar errado, ela é uma pessoa que viveu e aprendeu. Que se permite modificar com as experiências. Que vive em processo, em movimento. Que não admite a estagnação, cultural, intelectual, ideológica. Mudou de religião, de partido, mudou. Cresceu. Amadureceu. Melhorou. Marina não é a mesma pessoa do passado. E talvez não seja do presente. Marina aponta para o futuro.
Uma histórica ambientalista de carteirinha, que se permitiu entender e reconhecer, publicamente inclusive, a importância do agronegócio. Que há alguns anos tem a iniciativa de se aproximar de ruralistas para trocar figurinhas. Para a decepção dos ambientalistas, para a desconfiança dos ruralistas... Uma histórica militante petista, que não aceitou a esquerda pela esquerda, o poder pelo poder... A cartilha pela cartilha. Que não aceitou ficar com o ideal, mesmo quando o real lhe apresentava coisa distinta...
Decidiu declarar apoio a Aécio no 2º turno, em 2014, ainda sob o legado do Mensalão. Teria sido mais fácil se esquivar na omissão. E, naquele dia, na segurança secreta e confortável da urna, hastear uma das bandeiras, como muitos fizeram. Hoje, na égide da Lava Jato, e suas revelações sobre o tucano, diz que, se tudo houvesse sido revelado à época, não teria preferido nenhum...
Não demoniza partidos nem pessoas, mas também não santifica. Não elege culpados e inocentes, deixa isso para a Justiça. Não vê a punição como vingança, mas como reparação. Sem ódio, mas com compaixão. Apoiou o impeachment, porque entendeu que Dilma cometeu crime de responsabilidade, e que o Brasil não se sustentava mais com ela. Defendeu a cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE, porque entendeu que cometeram, ambos, severas irregularidades na campanha. Seu partido protocolou o pedido de cassação do mandato de Eduardo Cunha, com êxito. Ela opina, ela se expõe, mas não histericamente como a gente gosta. O faz ao seu modo, mais discreto e educado do que o convencional. E, sobretudo, respeita e acata decisões. Como acatou a prisão de Lula, com responsabilidade e sem ressentimentos.
Descobri com o tempo, só com o tempo, que essas não são atitudes covardes nem dissimuladas, mas corajosas e autênticas... É tão mais fácil manter-se fiel aos ideais da juventude, mesmo quando o transcurso vida nos mostra coisas novas... Mudar é mais difícil do que permanecer igual. Vi Brizola morrer igual e isso me causou admiração há época. Chorei de emoção. Mas não penso mais assim. Não é possível que tudo o que a vida tem pra nos mostrar o faça até os vinte e cinco anos... Mas aos dezoito a gente já se sente pleno. Equivocadamente pleno... Aos trinta e cinco, sinto minha mente ainda confusa, ainda imatura, ainda em desenvolvimento... Talvez aos cinquenta ou sessenta eu vá montando o quebra cabeças, ou talvez nunca...
Nos cinco anos como Ministra do Meio Ambiente, no governo do PT, no auge do seu poder e da corrupção, conta que ninguém, ninguém se aproximou dela para sequer, sequer propor qualquer ilegalidade... Parece que as pessoas percebem quando a gente se permite, não é mesmo? Ao contrário do que alguns pensam, divórcio não significa necessariamente traição, o adultério sim... Ela se divorciou de muitas coisas, para se manter fiel... Sem mágoas e sem guerras com os antigos companheiros...
Mas essa não é a política que a gente gosta. Porque a gente não gosta da paz. A gente gosta da guerra. Da guerra santa. A gente gosta mesmo é de se sentir um soldado do bem, missionário da verdade. Nada como um demônio para fazer a gente se sentir um anjo... É bom triunfar diante da prostração do inimigo. Pisar na cabeça da serpente, sem pena...
A paz é sem graça, porque nela não há vencedor (para que ninguém perca). Ninguém fica por cima (para não rebaixar ninguém). A paz não cativa, é serena e madura. Já a guerra é contagiante, poderosa e cheia de vigor!
Sigo, Marina e eu, entre decepcionados e desconfiados... Sem muito alarde, sem muito ibope... Intimamente convencido de que o remédio para a radicalidade é a moderação...