- E o salário, ó!


Uma das recordações que tenho da infância é a do meu pai se estourando de rir assistindo à Escolinha do Professor Raimundo. Eu era muito pequeno na época, não entendia os diálogos direito, nem achava muita graça. Ria mais do meu pai do que do programa...

Curiosamente, há pouco mais de um ano, estava na casa dele, deitado numa rede, de bobeira. Ligo a TV e encontro o Canal Viva, exibindo o programa Chico Total, lembra? Eu agora já era grandinho e fui conferir se esse cara é mesmo o cara... Eu ri a tarde toda! Foi quando tirei o chapéu para Chico Anísio... Um talento impressionante, que não encontro nos dias atuais... Criava e atuava em 209 personagens e mais um bocado de coisa... E ainda um homem bom, de um coração grandioso...

Pena que meu pai, dessa vez, não pôde curtir comigo. Já estava bem doente...

Salve Chico! Fica com Deus!

Nas Alagoas...

Assistindo ao programa CQC, da TV Bandeirantes, ontem, fiquei impressionado com o escândalo envolvendo a Assembléia Legislativa daquele estado. Foram desviados R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais) da folha de pagamento dos funcionários (não dos parlamentares, é claro). Outros R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais), para a construção de uma biblioteca e de uma escola legislativa, desapareceu! Simples assim. Muito bacana... Viram quantos zeros? Tem que contar com cuidado, se não, se perde...

Ainda bem que Alagoas não está precisando de investimento e recursos públicos: é apenas o estado do nordeste com o maior índice de violência, pobreza e analfabetismo... Fiquem tranquilos, a cada 5 alagoanos, 4 são analfabetos... (Quatro?) Sendo assim, justifica-se a roubalheira... Tá tranquilo...

Tão pensando que é o quê? Pelo amor de Deus! Isso não pode ficar assim! Cadê as leis, cadê a punição, cadê a democracia, cadê o direito?! Que Estado é esse, o nosso? Tá parecendo qualquer coisa! Rouba-se assim, descaradamente, e não se faz nada! Não podemos admitir isso! Não somos palhaços! Queremos construir alguma coisa de descente, civilizada, ou não é?!

Depois, o deputado diz, sorrindo e satisfeito, para o repórter, que "compra votos", que "prefere dar dinheiro do que dar cheiro em careca feridenta de bebê", como se fosse um coronel dos velhos tempos... E a gente, é um palhaço?! Em seguida, um outro deputado (irmão de Renan Calheiros, inclusive), quando perguntado sobre o dinheiro, se ele sabe onde está, se ele prefere que o povo permaneça na ignorância, o "nobre" deputado dá um soco na cara do repórter (a sorte foi que ele desviou). Não admite nem sequer a piada, depois...

Na minha Paraíba, o Fantástico filmou uma empresa contratada pela Administração da Capital, oferecendo dinheiro ao repórter, que se disfarçava de funcionário de outra Prefeitura, numa suposta licitação... Na tranquilidade, na experiência, na malandragem, na safadeza, na "sem vergonhice", na esculhambação, na corrupção, no crime... "No telefone, não fale recursos, diga documentos".

E a gente, é pra dizer o quê?!

Obs. assista à matéria do CQC, clicando aqui.

Porque ele vive

Hoje faz um ano da morte do meu pai. Parece menos. Dizem que as pessoas não morrem, mas permanecem vivas nas lembranças dos que ainda estão nesse mundo... Acredito mesmo nisso. Como dizer que pessoas como Sócrates, Gandhi, Francisco de Assis, Buda, o próprio Jesus, e tantos outros que você recorde, não estejam vivos? Estão vivos e muito vivos (mais do que eu e você)! Suas lições e ensinamentos continuam modificando (para melhor) a vida das pessoas mundo à fora. Neste sentido são eternos...

Para mim, meu pai continua vivo. O que recebi dele durante os anos de convivência, o que ouvi dele nas prazerosas e entusiasmantes conversas, seus discursos (gostava de discursar), suas reflexões, suas idéias (sua ideologia), seu imenso amor pela vida, sua esperança contagiante, sua fé amadurecida, são coisas das quais jamais esquecerei... Tudo isso continua vivo (e muito vivo) dentro de mim, o que inevitavelmente continuo a repassar, natural e subliminarmente para aqueles de minha convivência... Tenho certeza que muitas pessoas também carregam em si algo do meu pai.

Deixem eu contar uma história que me comove.

Na missa de 7º dia, uma pessoa querida avistou o meu pai de pé, vestindo uma roupa simples (como era de costume), em uma das entradas da igreja, sorrindo e observando as pessoas se confraternizarem. Quem viu é católico e não acredita nessas coisas. Contou-me dizendo que os olhos lhe "pregaram uma peça", mas que viu, viu. Se ele estava espiritualmente ali, naquele momento (coisa que eu acredito), nunca saberemos ao certo. Mas isso não é o mais importante. O importante é que ele vive!

Pra terminar, deixo uma poesia feita pelo meu pai:

desejos consciência

De coisas eternas, queria ser.
Bondade, infantil bondade, queria ter.

Da pura verdade, queria viver.
Sabedoria, humilde sabedoria, queria ter.

Dos desejos mil, tanto evitei possuir.
Simplicidade, tudo simplicidade, queria ser.

Das paixões humanas, humanas paixões eu vivi.
Quis amar, fiz sorrir, fiz sofrer.

Efêmero, consciente estou.
De alma eterna, viajante sou.

jdantasdiniz.jr
maio/2006

Eu tiro o chapéu para o Programa Bolsa Família

Veja as estatísticas (atuais e oficiais) a respeito do Brasil:
   - Somos o 6º país mais rico do mundo;
   - Somos o 84º no Índice de Desenvolvimento Humano;
   - Somos o 12º com maior desigualdade social do planeta.
Somos tudo isso ao mesmo tempo. Junto e misturado.

Morei em Sousa por dois anos (interior da Paraíba) e lá não é diferente de onde você vive, em qualquer lugar do nosso país. Lá tem restaurantes de alto nível, carros importados circulando na cidade e casarões luxuosos aglomerados em áreas específicas. Mas minha esposa, a trabalho, visitou bairros inteiros atolados na lama, esgoto e tudo o que não presta. Onde drogas, prostituição e abuso sexual (infantil inclusive) são quase culturais. Uma vida que não existe... ou não deveria ter existido...
   - Quer se matar comadre? Não faça isso (muito embora não tire sua razão).

Muitos advogam a tese da “esmola”. Que o governo deveria ensinar a pescar e não dar o peixe, dar emprego e não dinheiro, que estamos formando preguiçosos, que é um programa assistencialista e eleitoreiro, etc.

Para receber o maior valor deste Programa, que é de R$ 306,00 (trezentos e seis reais), a família precisa ter apenas 7 filhos (eu disse sete) e menos de um salário mínimo para sustentar a todos, o mês inteiro. O menor valor é de R$ 32,00 (trinta e dois reais), aquilo que a gente gasta quando vai ao restaurante, fastioso.

Mas, pra receber a "esmola", não precisa somente passar fome. Tem que estar em dia com muita coisa: pré-natal; acompanhamento do bebê lactante; vacinação dos filhos; frequência escolar mensal de 85% para as crianças, e de 75% para os jovens. Tudo isso tem que estar em dia. Se um filho menor trabalha, tem que deixar o trabalho e, além de estudar, deve participar de serviços socioeducativos (como o PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil ou o ProJovem), e com frequência de 85%.
Existem também projetos sociais de geração de renda, destinados especialmente (não exclusivamente) para o pessoal do Bolsa Família. São cursos de culinária, pedreiro, eletricista, marceneiro, camareira, pet shop, etc., colocados à disposição da comunidade.

Penso que talvez estejamos dando o peixe ao pai, mas ensinando os filhos a pescar! Talvez as próximas gerações tenham condições de quebrar esse ciclo vicioso de miséria... Porque tomaram vacina, porque comeram, porque estudaram...

Se tem vereador recebendo o dinheiro, tá errado! Se tem mulher "embuchando" pra receber o dinheiro (pobre coitada), tá errado! Se tem corrupção e desvio da verba (e tem mesmo), tá errado! É um absurdo e tem que punir! Mas não vou repudiar o programa porque isso acontece. Se for assim, vamos bombardear o Congresso Nacional... o que nem eu quero nem você deseja (espero).

Isso não é comunismo ou ditadura, do contrário, é democracia e respeito às leis. A Constituição diz, logo no começo (artigo 3º), que o Brasil tem por meta “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”.

Por isso eu tiro o chapéu para o Programa Bolsa Família.