Plantão Hardcore

Essa história é verdadeiríssima e ocorreu há muitos anos em João Pessoa. Uma médica de meia idade, divorciada e com a vida feita, cumpria sua jornada de plantões de uma forma no mínimo inusitada, surpreendente. Para aliviar o estresse (penso eu), a doutora levava para o trabalho umas fitas cassetes, das quais fazia uso nas oportunidades de ócio ou descanso, recreativamente.

Para cumprir sua programação, pedia as chaves ao funcionário da Central de Vídeos do hospital, e lá, divertia-se. Sendo que com filmes pornô, acredite. Fazia deste desejo um hábito, sem receios, como se estivesse assistindo Frank Sinatra ou o Balé Bolshoi. Bem diferente da mamãe na sua suíte, trancada a cadeado, às duas da madrugada, com os filhos dormindo no quarto do final do corredor, a inseguros mais de 15 metros de distância, correndo-se o risco de os meninos levantarem para ir ao banheiro ou tomar água, aumentando a aproximação... A doutora, não: gostava de locais públicos, por razões que só o Kid Bengala explica.

Da mesma forma que podemos escorregar na folha seca, cair com a cabeça numa pedra pontiaguda deixada na calçada e morrer de traumatismo craniano a caminho da padaria; a médica, em um de seus expedientes de intimidade, por um desígnio caprichoso do diabo e uma fatalidade inesperada da tecnologia, teve o seu vídeo hardcore retransmitido simultaneamente em todas as dezenas de televisores para as centenas de pessoas na maternidade: das enfermarias às enfermeiras; das salas de parto às de descanso, do pré natal ao puerpério, da recepção à UTI, do vigilante ao diretor, do papai recém nascido à vovó recém chegada...

Levaram uns cinco minutos para se darem conta de que não se tratava de um fato isolado. Levaram uns cinco minutos para saírem do constrangimento ao desespero. Levaram intermináveis cinco minutos para correrem até a Central de Vídeos, quando flagraram a doutora, inocente, desfrutando a olho nu daqueles malabarismos...

Você, o que faria? Sairia correndo eternamente, como o Forrest Gump, em direção às Ilhas Virgens? Fugiria naquele mesmo dia para as missões do Médico Sem Fronteiras na África Central? Ou (mais prático) se mataria ali mesmo, torcendo para não encontrar tão cedo com São Pedro ou o Senhor Jesus?

Conta a recontagem que ela reagiu com uma expansiva gargalhada, curtindo ser o "centro das atenções"... Há quem diga ainda que a protagonista adorava relembrar essa novela para outros colegas do trabalho, não-expectadores do episódio, sentindo-se uma estrela...