Pedagogia barata

Têm certas coisas que não dá pra entender... E você também não vai entender. Sabemos, já faz um tempo, que há uma preocupação para a consciência e o respeito à classificação indicativa dos filmes, programas de TV, páginas da internet, etc., relativo à faixa etária. O que é de adulto não é de criança, porque o copo da sua estrutura psíquica e emocional ainda não está pronto para receber o vinho do sexo nem o uísque da violência. Por enquanto é tempo de sucos e refrigerantes, no máximo um cafezinho morno numa xícara cuidadosamente adocicada...

Essa campanha é sobretudo dos educadores, dirigida aos pais. Surpreendente foi assistir ao movimento inverso, que no mínimo é confuso e sem sentido: os pais tentando conscientizar a escola sobre a importância dos conteúdos apropriados para a idade dos seus alunos... É difícil de acreditar, mas eu não estou fantasiando, nem criando, nem aumentando. E as coisas caminharam da pior forma possível.

A instituição educacional, com toda a louvável criatividade e espírito de iniciativa, promoveu uma atividade diferente, organizando a exibição de filmes para a turma. Produções indicativas de 16 e 18 anos, para alunos de 12!, cuja violência desencorajou a presença até mesmo da bebezinha da professora...

Mas todo mundo erra, não é verdade? Não sejamos tão maldosos e críticos... Por isso a mãe alertou por escrito a direção, no sentido de promover a adequação dos conteúdos, selecionando outros DVD's. Espera-se, é claro, um belo pedido de desculpas por parte da escola, para, em seguida, nobremente envergonhada, realizar as devidas conformações. O pior foi a reação: retiraram da sala de aula unicamente a filha dessa mãe "desaforada", explicando o episódio aos demais alunos, de modo que todos passaram a zombar da menina... Haveria conduta mais inadequada do que essa?

Nem mesmo a visita pessoal dessa mãe modificou o cenário. A tragédia somente foi contornada, a custa de muito desgaste e de outras visitas, acompanhada de advogada, inclusive. Ao invés de acatarem a crítica, suspenderam a atividade, como um menininho mimado...

Chega a ser surreal... Um sentimento impactante de paralisante abandono... De uma preocupação e desconfiança assustadora sobre tudo o que nos cerca... Socorro.

Aliás, acho que vou alterar o título do texto. Essa pedagogia não é nada barata, e o valor da mensalidade é prova suficiente. Vou chamar "Pedagogia de barata". Seria a classificação mais indicada pelos melhores estudiosos...

E é na cabeça!

O meu assalto recente não passou de uma brincadeira. Foi uma tentativa frustrada e tudo saiu muito bem. Ele até devolveu meu celular, sem eu sequer o pedir.... O homem foi solidário, mas foi esperto também. Percebeu que o aparelho não lhe daria muito futuro. Preferiu sair de mãos vazias, do que passar vergonha perante os comparsas, com um produto de quinta categoria, o que serviria apenas para desqualificar sua performance. Dignidade acima de tudo!

Conversávamos três amigos expansivamente à meia noite, em uma rua escura e sem movimento, sozinhos, na calçada de um clube, com a porta do carro aberta e desfrutando ingenuamente da segura liberdade de trinta anos atrás...

Discretamente, a moto chega e:

   - Escora todo mundo na parede. Se fizer qualquer coisa eu dou um tiro, e é na cabeça!

Apesar da exclamação, ele foi sutil. Voz branda e sem euforia, conduziu tudo como uma encenação de adolescente... Acreditou que não tínhamos nada a oferecer, elogiou meu colega e partiu em busca de outra vítima mais interessante.

Pensando depois em casa, conversando com a minha esposa, cheguei a algumas conclusões. Toda essa tranquilidade não diminuiu o nosso risco. Mata-se assim mesmo, por brincadeira. A banalidade colocou a vida humana como uma simples moeda de troca: "O relógio ou a vida!", "o celular ou a morte!", "dez contos de réis ou um tiro na cabeça!"...

Foi embora. Mas poderia ter disparado na saideira... É quase a mesma coisa...

Desde quando despertei, sempre que me lembro, tenho um embrulho nas tripas...

Essa é a vida, essa é a morte.