Cadê?

Cadê a bola nas ruas...
Cadê o pião... a pipa... a topada... cadê a zoada...
Cadê a casa da vovó... Cadê a casa? Cadê a vovó?
Cadê os vizinhos... a vizinhança...
Cadê a liberdade... a tranquilidade...
Cadê a segurança?

Cadê as cartas... aqueles encontros... aquelas pessoas...
Cadê as pessoas?
Cadê a saudade... cadê a cidade... cadê o lugar...
Cadê a simplicidade... a sinceridade...
Cadê o amar?

Cadê a soneca... o sono profundo...
O dia comprido... Cadê o dia?
Cadê a padaria?
(a soda era ruim...)
(o bate-entope era bom...)
Por falar nisso... cadê o bombom?

Cadê o bandido... ladrão de galinha... cadê a galinha?
Cadê a cadela... a tigela... cadê a pitomba...
Cadê o “ponche”... o refresco...
Cadê a frescurinha... que entra na sala e sai na cozinha?

Cadê a menina... cadê a donzela...
Cadê a piada... cadê a calçada...
Cadê a igreja... o remorso... a Ave Maria...
Cadê Maria?

Cadê o passado... que não se vê mais...
Cadê o fiado... cadê o rapaz...
Cadê a palavra... cadê os valores...
Cadê os doutores... cadê os valores?

Cadê os valores?
Cadê os valores?

Que bicho é o seu?

Me chamavam de "Leopardo" e de "Leão", por causa da semelhança com o meu nome... Eu até que gostava. São animais bonitos, com destaque na selva... Para um garoto, entendia como um elogio. Mas com o passar do tempo, já um "velho barbado", vejo que não guardo qualquer identificação com estes felinos. E qual é então o meu bicho?

Sem dúvida, o meu bicho é a "Tartaruga". E com muito orgulho!

Primeiramente porque venero a sua paciência. Ela é o retrato da paciência, a paciência em "pessoa". E eu sei o quanto isso é importante na vida, porque me faz falta às vezes... Têm coisas (muitas coisas) que a gente não controla, não tem poder (especialmente sobre as pessoas), e, nestes casos, precisamos ter paciência... Por isso ela me inspira profundamente. Fico "zen" admirando uma tartaruga, como poucas coisas na natureza...

Outra coisa que me fascina é a proteção do seu casco. Diante do perigo, ela se encolhe e fica ali, escondida, protegida, segura e tranquila... pelo tempo que for necessário. Quem não gostaria de ter um esconderijo desses, para de vez em quando se refugiar e ficar protegido dos tormentos, perturbações e problemas, só por um momento? Ah, eu com um casco desses...

Ela também vive muito. Se você pegar uma tartaruga pra criar, ela vai enterrar toda a família, incluindo os netos... É mole ou quer mais?

Ela também é devagar. A vida tem seu próprio ritmo. Às vezes o ritmo é lento e não há muito o que fazer... Inclusive, tem certas coisas importantes na vida que é melhor que se faça devagar mesmo, para não correr o risco de errar e ter que refazer tudo de novo... não é mesmo? Ouvi uma frase que fala um pouco sobre isso, a qual me impactou de imediato:
"Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante que a velocidade"
(Edson Marques).

Acho que não é à toa que uma das músicas que eu mais gosto é aquela:
"Ando devagar, porque já tive pressa
E levo esse sorriso, porque já chorei demais"
(Renato Teixeira & Almir Sater).

Ideológico, sim. Idealista, não!

Depois de levar alguns “tombos” na vida, aprendi que nada é perfeito. Nem eu, nem ninguém, nem nada. Essa mania por perfeição, que alguns têm, se resume a frustração, decepção, intransigência, chateação, etc. A vida tem suas “mortes”, até a flor tem seus espinhos, e não esqueça: “há uma pedra no meio do caminho”...

Assim, depois de tanto “bater com a cabeça na parede” e “dar murro em ponta de faca”, larguei mão do idealismo e assumi o realismo. Foi uma mudança de paradigma. Foi a melhor coisa que fiz. Me sinto humano, forte e fraco, bom e ruim, dentro da minha realidade, no limite das minhas possibilidades. Deixei de querer ser perfeito e passei a querer ser apenas eu mesmo. Deixei de me inspirar nos santos e passei a me espelhar nas pessoas, gente como a gente... Costumo dizer que aprendo com todos: quem acerta, posso imitar; quando erram, tenho um belo exemplo de como não proceder. Aprendo da mesma forma...

Apesar de tudo, preciso ter referências sólidas, valores e princípios, que me sirvam de norte, para me guiar na vida. Por isso sou ideológico. Tenho uma direção. Os caminhos podem não ser os melhores, os ideais, mas sei aonde quero chegar; mais do que isso, sei aonde não quero chegar. Princípios são aquelas coisas com as quais você se apega quando está “cego”, “perdido”, quando tem que decidir mesmo antes de “a poeira baixar”, ainda no meio da confusão... Sem entender nada, você vai pelo princípio e, lá na frente, quando as coisas normalizam e voltam a ficar claras, você olha pra traz e vê que acertou, que o princípio lhe salvou. Para mim, isto é ser ideológico.

Passei a me satisfazer, não com o melhor, mas com o melhor possível, entende?

Ideológico, sim. Idealista, não!