Dormir também é viver!

Conheço pessoas que têm quase pavor por dormir, porque acham que isto é "deixar de viver", é estar morto por horas... Fiquei bastante chocado com a declaração, pois nunca havia pensado dessa forma.

Analisando por este lado, realmente, quando se dorme, fica-se imóvel, inconsciente, mudo, surdo, "apagado", morto. A vida recomeça a cada despertar... Há quem argumente que todos nós dormiremos eternamente, um dia, no caixão (haverá tempo pra isso), e que portanto devemos aproveitar a vida ao máximo, dormindo o mínimo possível.

Aprofundando estes pensamentos, fazendo os cálculos, considerando uma média padrão de 8 horas diárias de sono, o equivalente a 1/3 das 24 horas do dia, chegamos ao surpreendente resultado de que, aos 30 anos de idade, 10 destes passamos dormindo. Os neuróticos resumem os cálculos assim: a cada 30 anos que passa, 20 foram vivos e 10, mortos! Saravá! Sai pra lá neura!

Acho que a brevidade da vida nos assusta diante da morte (por mais que vivamos 120 anos, como queria meu pai, ainda é muito pouco, comparado à eternidade da natureza, do cosmo). A morte, na verdade, é um evento próprio da vida, que pode ocorrer, sem nenhum pessimismo, a "qualquer momento", com "qualquer um de nós".

Tenho pensado que o mais importante da vida não é viver (ou até mesmo viver bem), mas viver certo, "em paz com o mundo e comigo" (como canta Chico César). O mais importante não é andar rápido ou muito, chegar longe, mas estar no caminho certo, trilhando experiências que nos eleve como pessoa, como gente, que nos ensine coisas boas e valiosas (aquelas que não tem preço).

Eu, particularmente, quero morrer (não agora, é claro, nem daqui a pouco). Quero morrer porque quero viver esta experiência pela qual todos passam, invariavelmente... É uma forma de me sentir "humano", na mais concreta expressão da palavra, e eu gosto disso. Além do mais, acho que a vida não seria tão sem graça, ao ponto de sermos finitos. Algo nos espera. Algo continua...

Voltando à dormida, é a coisa que eu mais quero hoje! E sem peso na consciência. Ontem dormi às 3 da madrugada (por ocasião do aniversário de meu irmão) e acordei logo cedo para o trabalho... Pensando bem, estou com saldo positivo da noite anterior... Sai neura!

Governar é bom demais!

Governar é decidir, é tomar partido. É, inevitavelmente, contrariar interesses. É, inevitavelmente, fazer inimigos.

Se o governo aumenta o salário mínimo, os empregadores reclamam, e com argumentos bastante coerentes, realmente convincentes. Por outro lado, se o governo não o faz, os trabalhadores dão o seu berro, com justos motivos, igualmente coerentes e convincentes... Você encontra técnicos, estudiosos e intelectuais renomados posicionando-se de um lado e de outro, sustentando racionalmente os seus pontos de vista. Nada é consensual e tudo é arriscado. Não faltam previsões desastrosas.

Uma decisão de governo tem normalmente repercussões econômicas, sociais, políticas, e sempre prejudica a vida de uns e beneficia a vida de outros. Acho que, quem foi prejudicado, tem mais é que reclamar mesmo. Só estou me colocando, agora, no lugar do gestor... E ainda têm aqueles, cuja missão é sempre criticar, independentemente do que se faça; seja porque é do partido de oposição, seja por qualquer outro motivo. Ofício espinhoso esse...

Seguindo os ensinamentos da minha sogra (confira), governar é viver com "A Espada de Dâmocles" apontando diuturnamente para a sua cabeça, doidinha pra cair... e de vez em quando cai! Não faltam exemplos: John Kennedy (mataram), João Paulo II (quase morre), Getúlio Vargas (se matou) e o nosso Burity (escapou fedendo), sem falar dos ditadores mundo à fora (mas estes pediram pra morrer, é diferente).

Tenho concluído ultimamente que não nasci para governar, porque não tenho disposição para inimizades. De brigas e arranca-rabos, tô fora! Mas de diálogos e debates, discussões respeitosas e sinceras (esta última, muito difícil na política), é comigo mesmo! Gosto é da conversa. Costumo dizer que se bate-papo, jogar conversa fora ou conversar miolo-de-pote desse dinheiro, seria minha profissão e teria sucesso...

Quem tem dificuldade em lidar com críticas, não presta para liderar. O bom governante precisa ser aberto ao diálogo, porém muito convicto de suas posições, para viver (especialmente dormir) com a consciência relativamente leve (na medida do possível), na certeza que está mesmo fazendo o que é certo.

Viu? Governar é bom demais!
Vai encarar?

"Tem coisas que só o 'capitalismo' faz pra você"

Há alguns dias, postei um texto sobre essa história de Luíza no Canadá (confira aqui), sem imaginar que este fato banal e local repercutiria em proporções tão gigantescas... Ela assume horário nobre na Rede Globo, nas redes sociais e internet é recorde, nas casas, bares e ruas não se fala em outra coisa... O que mais me impressiona é que o pai apenas disse que sua filha estava no Canadá, mais nada.

Achei brega o que ele falou na propaganda, fazendo questão de mencionar este detalhe, que não tem qualquer relação com a divulgação de um condomínio residencial, como quem quisesse demonstrar um status super bacana com isso. Achei provinciano, pequeno.

O que não entendo é como isso pôde trazer tantos benefícios para ela e sua família... A menina agora vai começar a fazer vários trabalhos e faturar com o ocorrido. É possível que fique rica. "Tem coisas que só o capitalismo faz pra você".

Dizem que uma das injustiças do comunismo é o fato de uma pessoa, que tanto trabalha e produz, ser remunerada ou ter o mesmo padrão de vida que outra, preguiçosa e desinteressada, que "não está nem aí pra história do Brasil". Isso não é justo mesmo. Por outro lado, ensinam que, no sistema capitalista, de mercado, cada um é recompensado pelo seu trabalho, isto é, quem trabalha mais, ganha mais, vive melhor, e quem não quiser produzir, morrerá de fome. Isso também me parece justo, pois nada deve vir de mão beijada, mas resultado do esforço, qualificação e dedicação.

Mas como explicar um fenômeno desse? Como uma mancada dessa, tão inútil, pôde se transformar em algo tão positivo? Isto também é meio confuso, contraditório. O pior mesmo é o inverso, quando vemos pessoas que estudam, se qualificam, se esforçam e são tão desvalorizadas. É o caso dos professores, que são quase esquecidos... Isto sim revolta. São as contradições do sistema.

A mídia precisa é de ibope, não interessa o conteúdo. "Fale bem ou mal, mas fale de mim", este é o lema. A notícia, a informação, o conhecimento também são mercadorias, e sobre eles também recai a lei da oferta e da procura. Se o acontecimento é muito procurado, aumenta o preço, cresce o seu valor, sem qualquer filtro de conteúdo ético e moral. O importante é a audiência, que, associada a produtos e/ou serviços, gera renda, atrai o capital.

Tudo isso me deixa meio desnorteado, porque meus pais sempre me ensinaram que as coisas não caem do céu, e que só o estudo e o trabalho poderão garantir nosso futuro... Tenho percebido que às vezes as coisas caem do céu sim, mas é como um raio, que acerta um em um milhão, e que por isso não podemos esperar sentado. Seria tolice. Então meus pais continuam certos: trabalho aliado ao conhecimento é o que nos oferece alguma garantia.

De qualquer forma, alguém me sugere uma besteirinha, para eu colocar na internet e vê se "bomba"? Tô precisando complementar o orçamento. Me ajuda aí!

15 de janeiro

15 de janeiro... Este dia nunca será comum para mim. Era o aniversário do meu pai... O próprio som da pronúncia desta data ou o desenho da sua escrita já causa alguma coisa por dentro... Era especial. Mesmo sem eu fazer festa quando desejava-lhe o tradicional "Feliz Aniversário", meio desconcertado.

Antes de ele partir (mas já doente), escrevi uma coisa meio poema, meio prosa, intitulado "Eu também tenho um pai" (postei até no blog). É que meu pai havia escrito um texto chamado "Eu tenho um pai", sobre o meu avô. Aí tive a idéia de fazer o meu para ele. Painho até comentou no meu blog, na época, lembrança que guardarei para toda a vida (confiram se quiser).

No dia de hoje vou contar sobre uma iniciativa que ele teve, já aposentado por conta da doença (câncer de próstata). Era certamente uma forma de preencher o seu tempo e sua mente, o que poderia fazê-lo de várias outras formas, mas escolheu essa, porque era um educador-professor nato.

Residia à época num sítio em Gurugi, zona rural do município do Conde/PB. Área pobre e quilombola. Teve a idéia de dar aulas de Física e Matemática aos sábados, voluntariamente, para aqueles jovens do ensino médio que se preparavam para o vestibular. Não havia sala, nem carteiras, nem cadernos, nem lápis..., mas conseguiu tudo isso mobilizando a comunidade, dialogando com o sindicato e a prefeitura, e ainda contando com a colaboração de instituições como a Maçonaria (apesar de não ser maçom).

Gostaria de ter assistido a pelo menos uma dessas aulas, mas ele me narrou como foi a primeira, mais ou menos assim:

Alunos presentes e ele desenha no quadro-negro o mapa da Paraíba. Com o giz, marca dois pontos, um bem ao interior e outro no litoral, e os alunos olhando... quando ele começa a explicar.

   - Estão vendo esse ponto aqui? É o Quilombo das Contendas, onde minha mãe nasceu. E este outro é o Quilombo de Gurugi, onde vocês nasceram. Os pais da minha mãe eram analfabetos, igual aos pais de vocês. Mas quando minha mãe tinha nove anos, uma pessoa da família retirou ela de lá, para poder estudar, e aos 14 anos ela volta como professora na cidade. Ela descobriu logo cedo a importância da educação, que livrou ela da miséria. Foi a única da família que teve estudo e a única a formar todos os sete filhos.

   - Vocês estão tendo a oportunidade de escrever uma nova história na família. Os seus pais não tiveram essa oportunidade. É você quem vai dizer se quer continuar vivendo como os seus pais, passando necessidade, ou se vai querer fazer uma história diferente, como fez a minha mãe. O estudo é o que pode melhorar a vida de vocês e da sua comunidade...

Falava coisas assim. Encorajando aqueles meninos... Mesclava os conteúdos com esses discursos... Era assim que ele fazia. Era assim que ele ensinava.

"Menos Luíza, que está no Canadá"

É nítida a diferença entre as propagandas nacionais e locais na televisão. Acho até que estamos melhorando sensivelmente o nosso nível, mas de vez em quando aparece umas que nos deixa mesmo envergonhados.

Estou falando da propaganda de um luxuoso empreendimento imobiliário de João Pessoa, na qual o colunista social Gerardo Rabelo o anuncia, fazendo questão de mencionar "naturalmente" que estava com toda a família, "menos Luíza, que está no Canadá"...

Cá pra nós, precisava disso? É só pra dizer que é de alto nível? Pois o tiro saiu pela culatra, haja vista que a mancada repercutiu rápido e negativamente na internet.

Satirizando a situação, encontrei um vídeo no YouTube que mostra um "Plantão da Globo", acompanhando a chegada de Luiza no Canadá, como um evento extraordinário.

Vale a pena conferir abaixo. Não esqueçam de ler as "notícias de última hora" que passam na tela. E divirtam-se:


Para ver a propaganda original clique aqui.

Eu tiro o chapéu para Ulisses Guimarães

Outro dia vi o senador Pedro Simon (um dos raros políticos que ainda tenho prazer em ouvir) contar uma belíssima história sobre o carismático Ulisses Guimarães. Coisa de gente grande, mais do que isso, postura de homem espiritual, que coloca os ideais acima das oportunidades da carreira. Veja que exemplo!

Com o fim dos vinte anos de ditadura militar no Brasil, finalmente acordaram em escolher um civil para presidente (eleito pelos parlamentares). O nome de Tancredo Neves foi consensual, pois, apesar de ser do partido de oposição, não era dos mais radicais, sendo por isso aceito pelos adversários. O vice era Sarney (que possuía boas relações com os generais).

Ocorreu que (como todos sabem) o infeliz do Tancredo adoeceu e morreu "antes de tomar posse como presidente". Os militares já foram logo providenciando a faixa para Sarney. Mas como podemos empossar o vice-presidente de alguém que nunca foi presidente? Da mesma forma que Tancredo nunca chegou a ser presidente do Brasil (oficialmente), Sarney nunca chegou a ser vice. Como poderia ele então suceder no cargo? Faz sentido... A Constituição dizia que, neste caso, o presidente do Congresso Nacional assumiria provisoriamente, até que se realizassem novas eleições.

Só que o presidente do Congresso Nacional era justamente, o odiado pelos militares, Ulisses Guimarães. Tinha ele portanto a oportunidade de chegar a presidência por determinação da própria Lei. Os seus correligionários (dentre eles, Pedro Simon) partiram inflamados contra a posse de Sarney, com justiça.

Aí aparece a grandeza deste homem. Com a alma elevada pela humildade e os olhos focados no futuro da Nação, sabia que assumir o governo naquele momento causaria, certamente, embaraços à redemocratização do país. Assim, sem dar bolas para a vaidade, apaziguou os ânimos da oposição e convenceu os colegas a permitirem a posse de Sarney. E tudo transcorreu sem maiores problemas...

Por isso eu tiro o chapéu para Ulisses Guimarães.

Uma cena emocionante que guardo dele é quando, concluídos os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, no discurso de encerramento, ele grita:

   - Temos ódio à ditadura! Ódio e nojo!

Um exemplo de coragem e idealismo.


Obs: veja o discurso de Ulisses Guimarães:




Eu tiro o chapéu para o Plano Real

Eu entendo muito pouco de muita coisa. Uma delas é "economia". Crise vai, crise vem, eu acompanho o noticiário e fico meio perdido no meio de tantas explicações e análises... Com muita insistência, vou captando uma informação aqui, outra alí, fugindo da completa ignorância, nesse universo estranho de pesquisas, estatísticas, especulações, projeções, etc.

Mas uma coisa eu acho que nunca vou compreender mesmo: é o tal do "Plano Real", que para mim é quase um mito, coisa de super-herói.

Eu era muito pequeno na época dos juros estratosféricos, incontroláveis. Mas ainda me lembro de comprar um leite em um dia e no outro estar mais caro, e no outro estar mais caro, e no outro estar mais caro... Parecia que as coisas eram assim mesmo e iam ser para sempre. Ser milionário era coisa pouca, um fubá custava mil cruzeiros...

Vários planos econômicos tentaram pelo menos amenizar a situação, e nada... O Plano Real era mais um - a moeda já tinha mudado várias outras vezes. Não era mais um: o Plano Real mudou a história do Brasil!

A estabilidade econômico-financeira, a fantástica e inacreditável derrocada dos juros, a valorização da moeda e o aumento multiplicativo do poder aquisitivo foram coisas jamais imaginadas por mim. De repente nosso dinheiro e o dólar estavam pário à pário. Até hoje não sei como isso aconteceu. Foi um milagre em proporções continentais. Um divisor de água na vida dos brasileiros. O fubá caiu para centavos...

Por isso eu tiro o chapéu para o Plano Real.

Quem souber explicar isso pra a gente, com rigor técnico e linguagem acessível, pode me avisar que eu garanto que publico no meu blog. No meu blog, na Veja e na Folha de São Paulo. Eu garanto.

Chico Maria e Frei Damião

Em recente entrevista concedida ao programa Bom Dia Paraíba, o jornalista Chico Maria contou algumas histórias interessantes que coleciona em sua carreira. Uma delas foi com o mito Frei Damião, bem engraçada, por sinal. Por isso não resisti em compartilhar com vocês.

O jornalista disse que tinha o hábito de perguntar aos religiosos com os quais encontrava, se Deus estaria dormindo no momento em que uma criança era estuprada. Geralmente obtinha a resposta que "é o livre-arbítrio do homem que faz essas coisas"; e que "Deus nunca dorme".

Com o Frei Damião (e especialmente com ele) não poderia ser diferente. Em entrevista "ao vivo" para todo o estado, o jornalista lança a mesma pergunta. Para a surpresa de todos, Frei Damião responde que não sabe dessas coisas, que é analfabeto; joga fora uns papéis que segurava na mão, e sai chorando...

Chico Maria teve de consolá-lo dizendo:
   - Não chore Frei, tenha fé em Deus...

No dia seguinte, o Frei liga para ele, desculpando-se, e pergunta se poderia fazer uma nova entrevista, sendo que "do seu jeito". E assim foi feito.

Conta o jornalista que, na nova entrevista, era basicamente Frei Damião dizendo:
   - Viva o Cristo-Rei!

E ele respondendo:
   - Viva!